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50 Anos sem Jimi Hendrix

O dia 18 de setembro de 2020 marca 50 anos sem Jimi Hendrix. 

Dada a força de sua música e a persistência de sua imagem no imaginário coletivo, é difícil acreditar que já se passou meio século da morte do homem para quem o termo guitar hero foi criado, e que nas últimas 5 décadas inspirou e continua inspirando guitarristas dos 4 cantos do planeta. 

Já que comemorar (co-memorar) significa “lembrar junto”, NESM preparou uma matéria especial para comemorar esta efeméride. 

Confira a seguir uma análise sobre a trajetória do grande gênio das seis-cordas. Coloque um de seus discos para tocar, acomode-se em seu sofá e boa viagem!

 

O Início: A dura infância de Jimi

Às 10:15 da manhã de 27 de novembro de 1942, no Seattle’s King County Hospital, nascia o maior guitarrista de todos os tempos: Johnny Allen Hendrix.

Achou esquisito?

Pois é, o nome que se eternizou e é usualmente conhecido pelos fãs é James Marshall Hendrix, porém seu nome de batismo é o citado acima. As fontes divergem quanto à razão da mudança de nome, mas para entender esta história precisamos conhecer um pouco do histórico familiar de Jimi.

Seus pais eram James Allen Hendrix, conhecido como Al, e Lucille Jeter, ambos cidadãos afro-americanos que possuíam sangue de índios Cherokee em suas veias. Eles se conheceram num clube de dança em Seattle em 1941 e se casaram em março do ano seguinte. Apenas três dias após o casamento, Al, que havia sido recrutado pelo exército americano para lutar na segunda guerra mundial, deixou sua casa para iniciar os treinamentos e portanto estava fora quando Jimi nasceu, em novembro.

Quando ele retornou dos combates, em 1946, decidiu alterar o nome de seu primogênito que havia sido batizado em sua ausência. Algumas fontes indicam que ele não teria gostado da escolha de “Johnny” por ser o nome de um antigo namorado de Lucille, mas o motivo oficial é de a alteração seria uma maneira de homenagear o irmão de Al, Leon Marshall, morto em combate (o que explica a inclusão de “Marshall”, mas não a troca de Johhny para James).

James Marshall Hendrix, primeiro registrado como Johnny Allen Hendrix – ou simplesmente, Jimi Hendrix

A infância de Hendrix não foi exatamente o que se possa chamar de um mar de rosas. Durante os três anos de ausência de Al, Lucille teve muita dificuldade para se manter, contando com a ajuda de familiares e amigos para cuidar de Jimi. Após o retorno de Al, as constantes brigas e discussões entre seus pais, acirradas pelo alcoolismo de ambos, geravam um clima estranho na casa, o que fazia o tímido Jimi se esconder no armário e se fechar em seu mundo interno.

Depois de Jimi, Al e Lucille tiveram mais 4 filhos: Leon, Joseph, Kathy e Pamela, sendo que os três últimos foram dados para adoção em virtude das dificuldades financeiras. A escassez de empregos formais nos Estados Unidos após o fim da segunda guerra atingiu em cheio a família Hendrix, que a muito custo conseguiu criar Jimi e Leon, mudando-se com frequência e vivendo principalmente em pensões e hotéis baratos.

Al e Lucille separaram-se em dezembro de 1951, quando Jimi tinha 9 anos, e Al ficou com a guarda dele e de seu irmão Leon. Lucille morreu precocemente, quando Hendrix tinha 15 anos. Há indícios de que Al teria proibido Jimi e Leon de comparecer ao funeral e dado aos irmãos uma dose de whisky, dizendo que era assim que um homem deveria lidar com a perda.

Steven Roby, autor de “Black Gold: The Lost Archives of Jimi Hendrix” (ainda não publicado no Brasil), falou sobre esta infância difícil numa entrevista ao jornal Estado de São Paulo:

Mesmo após o sucesso, ele evitava falar da infância, mas escreveu músicas para a mãe, morta aos 33 anos. O pai criou Jimi e Leon, o irmão mais novo, com pouquíssimo dinheiro. Durante os anos de luta pela sobrevivência, Hendrix encontrou na música a salvação, apaixonando-se pela guitarra, que o ajudou a expressar emoções e frustrações.”

 

Os primeiros contatos com a música

Quando estudava na Horace Mann Elementary School, na primeira metade da década de 50, Hendrix chamou a atenção da assistente social ao carregar o tempo todo uma vassoura, com a qual emulava o ato de tocar. Ela chegou a tentar convencer a instituição a adquirir um instrumento, alegando que a ausência de um instrumento real poderia criar danos psicológicos àquela criança. Infelizmente suas tentativas foram em vão, e Al também teria se recusado a comprar um violão para o filho.

A primeira vez que Hendrix tomou contato com um instrumento foi provavelmente em 1957, quando Jimi encontrou no lixo um velho ukelele com apenas uma corda. Nele, teria aprendido a tocar de ouvido a linha melódica de alguns clássicos do rock.

No ano seguinte, aos 15 anos, o garoto de Seattle conseguiu comprar seu primeiro violão, um instrumento precário, por 5 dólares (em valores atualizados, algo próximo a 44 dólares – cerca de 220 reais). Segundo algumas fontes, o dinheiro teria sido conseguido por Al ao vender um velho saxofone que a ele pertencia.

Hendrix passava horas tocando e descobrindo os sons. Os primeiros licks teriam sido ensinados a ele por Billy Davis, guitarrista de um grupo chamado The Midnighters, a cujo show Jimi assistira em Seattle. Billy também teria conseguido a primeira gig de Jimi, com os próprios Midnighters.

De posse deste primeiro instrumento, Jimi formou sua primeira banda, chamada Velvetones, mas logo percebeu que precisava de uma guitarra elétrica, que foi dada a ele por Al em 1959, uma Supro Ozark branca. Este instrumento infelizmente foi roubado depois de alguns poucos shows, e Al então comprou-lhe uma Danelectro Silvertone vermelha. Esta guitarra recebeu o nome de Betty Jean, que era o nome da namorada de Hendrix nesta época.

Jimi Hendrix aos 16 anos com sua segunda guitarra, “Betty Jean”

 

Serviço Militar

Muito se tem dito sobre a passagem de Hendrix pelo exército norte-americano, na divisão de paraquedismo, e sobre os motivos tanto de sua entrada quanto de sua saída.

Alguns livros lançados nos últimos anos, como o já citado “Black Gold: The Lost Archives of Jimi Hendrix”, e “Becoming Jimi Hendrix” (Também ainda não lançado no Brasil), lançaram novas luzes sobre este período da vida de Jimi. As publicações tem grande credibilidade devido ao extraordinário trabalho de pesquisa de seus autores, que utilizaram como fontes arquivos do FBI, da Justiça e do Exército dos EUA.

O guitarrista Jimi Hendrix servindo o exército, em foto com a turma da brigada de paraquedistas
Jimi Hendrix na divisão de paraquedistas do Exército Norte-Americano

De acordo com estas fontes, Jimi teria sido pego roubando carros duas vezes antes que completasse 19 anos, tendo então lhe sido oferecidas duas alternativas: Cumprir um tempo de pena na prisão ou se alistar. Hendrix não hesitou muito em entrar para a 101ª Airborne Division, no batalhão de paraquedistas, em 31 de maio de 1961, sendo assentado em Fort Campbell, no Kentucky.

Sem tino para o serviço e mostrando completo desinteresse por algumas tarefas básicas, Hendrix sofreu perseguições de seus superiores e mesmo de alguns colegas que zombavam da obsessão que Jimi demonstrava pela guitarra.

Ele escreveu algumas cartas a seu pai contando sobre as agruras sofridas, e em uma delas pediu que enviasse a ele sua Danelectro vermelha, dizendo que realmente estava precisando dela. Quando sua preciosa encomenda chegou, Hendrix não largava o instrumento, o que aborrecia alguns colegas. Eles então infernizavam a vida de Jimi com “brincadeiras” como esconder sua guitarra e só devolver depois de ele implorar por ela.

Jimi feliz da vida com a chegada de sua saudosa Danelectro

O único lado positivo de sua passagem foram as jams que ele fazia alguns músicos que também estavam servindo, notadamente o baixista Billie Cox, que mais tarde integraria a Band of Gypsys. Junto com outros músicos, eles tocariam em bares locais sob o nome The Casuals.

Jimi Hendrix Army

Sobre sua saída, durante muitos anos fãs e jornalistas musicais acreditaram numa versão que teria sido contada pelo próprio Hendrix numa entrevista no início de sua carreira. Aparentemente, desde então estas informações foram sendo repetidas sem que ninguém as checasse.

Jimi contou que recebera dispensa médica após machucar o tornozelo em seu vigésimo sexto salto, informação que não é confirmada em lugar algum do seu prontuário militar, mas até hoje é disseminada.

A verdade, revelada há cerca de uma década pelas citadas publicações, é que o desinteresse de Hendrix pelo serviço fez com que seus superiores o dispensassem. Em 24 de maio de 1962, o sargento do pelotão de Hendrix, James C. Spears, escreveu um relatório no qual constam as seguintes palavras:

“Ele não tem nenhum interesse no Exército… É minha opinião que o soldado Hendrix nunca atingirá os padrões exigidos de um soldado, sinto que o serviço militar será beneficiado se ele for dispensado o mais rápido possível.”

Em 29 de junho, Jimi recebia uma “dispensa geral sob condições honrosas” e encerrava assim este capítulo de sua vida, podendo a partir de agora focar em sua música.

 

O início da carreira musical: primeiras bandas e gravações

Em setembro de 1963, Billy Cox recebeu a dispensa do exército, então ele e Jimi de mudaram para Clarksville, no Tennessee, onde formaram uma banda chamada King Kasuals. Depois de um tempo tocando em gigs mal pagas em lugares obscuros, se mudaram para Nashville, onde se integraram à cena de Rhythm and Blues.

Os King Kasuals se tornaram a banda residente do Club del Morocco, um local importante da cidade, e pelos próximos dois anos Jimi tocaria no chamado Chitlin’ Circuit – um circuito de casas de apresentações espalhadas pelo leste, sul e meio-oeste dos EUA, onde desde a época da segregação, artistas negros, de músicos a comediantes, encontravam aceitação cultural e comercial.

No meio-tempo entre um show e outro com sua própria banda, Hendrix era requisitado como músico de apoio por vários artistas de soul, blues e rhythm and blues, como Sam Cooke, Wilson Pickett, Slim Harpo, Jackie Wilson e Ike & Tina Turner.

Jimi acabava sendo demitido das bandas quando os empregadores percebiam que ele roubava a cena no palco, e ele foi se sentindo frustrado em ter de obedecer às regras e ordens dos líderes das bandas.

Em janeiro de 1964 ele se muda para o Harlem, onde começa a namorar com Lithofayne Pridgon, que lhe dá apoio e encorajamento. Em fevereiro, ele passa na audição para integrar os I.B. Specials, a banda de apoio dos Isley Brothers, com quem ele faria suas primeiras gravações profissionais, entrando em estúdio pela primeira vez em março daquele ano.

(Confira nossa playlist com algumas destas primeiras gravações de Jimi!)

Hendrix excursionou com os Isley Brothers até outubro, quando se cansou de tocar o mesmo repertório noite após noite. Um pouco depois ele integraria os Upsetters, a banda de apoio de Little Richard, com quem ele gravaria um único single.

Foi com Richard que Hendrix fez sua primeira aparição televisiva, em julho de 1965, no programa Night Train do Canal 5 de Nashville. Voltou a tocar por um período com os Isley Brothers e por 8 meses tocou com uma banda de rhythm and blues, Curtis Knight and the Squires, com quem também realizou algumas gravações.

Hendrix com a banda de Curtis Knight, por volta de 1965

Em 27 de julho Jimi assina seu primeiro contrato, com Juggy Murray, pela Sue Records, uma gravadora baseada na Louisiana. Desconsiderando este primeiro acordo, Jimi assinou um novo contrato em 15 de outubro, desta vez com Ed Chalpin, sob péssimas condições: De acordo com o estipulado, Jimi receberia 1 dólar e 1% dos lucros dos discos que eventualmente gravasse. A relação com este empresário durou pouco, mas as implicações do péssimo contrato o atormentariam pelos próximos anos.

Durante todo este período, Jimi usara o nome artístico Jimmy James. Em 1966, cansado da vida como sideman, Hendrix se muda para Greenwich Village, tradicional bairro boêmio de Manhattan, em Nova York. Lá, forma a Jimmy James and the Blue Flames e desenvolve cada vez mais suas habilidades e estilo, ganhando progressivo destaque e tornando-se residente no Cafe Wha?, o clube onde o destino de Hendrix como um grande astro começou a ser traçado.

 

Linda Keith

Em março ele faz uma apresentação com Curtis Knight and the Squires em uma das casas de maior destaque de Nova York, o Cheetah Club, sendo assistido por Linda Keith (então namorada de Keith Richards), que ficou abismada com a musicalidade e presença de Hendrix.

Sobre esta noite em que o viu pela primeira vez no Cheetah, Linda relembra:

Foi tão claro para mim. Não pude acreditar que ninguém o tivesse notado antes, porque ele obviamente estava por ali. Ele era surpreendente – o humor que ele podia trazer para a música, seu carisma, sua habilidade e presença de palco. No entanto, ninguém estava pulando de excitação. Eu não conseguia acreditar.

Meu pensamento inicial, claro, foi: Keith precisa ver isso. Eu estava determinada a conseguir que ele fosse notado, conseguisse um contrato com uma gravadora e impressionasse todo mundo, então fui em frente.”

Linda Keith, modelo da Vogue e uma das principais incentivadoras da carreira de Jimi Hendrix
Linda Keith, modelo da Vogue e uma das principais incentivadoras da carreira de Hendrix

Linda e Hendrix tornaram-se amigos, e ela então o recomendou a Chas Chandler, ex-baixista dos Animals que começava a trabalhar com agenciamento de artistas, e que foi ao Cafe Wha? conferir se a indicação valia a pena.

O guitarrista e produtor Bob Kulick estava lá e detalhou como foi o episódio e a reação de Chas:

Jimmy James conseguiu seu show no Cafe Wha? e ouvimos dizer que Chas Chandler iria até lá para assisti-lo. Chandler era uma estrela, pois tocava baixo com a banda Animals. Ele sentou-se na sétima fila da plateia. Jimi estava tocando o mesmo show que havia mostrado na audição e, quando olhei para Chandler, vi que estava boquiaberto. Quando Hendrix começou a tocar Hey Joe com os dentes, Chandler soltou seu copo de bebida, derramando tudo sobre seu colo. Eu vi isso acontecer. Tenho certeza de que Chandler sabia o que havia acontecido naquele momento – Jimi tinha superado todos os guitarristas que ele havia visto em toda sua vida. Absolutamente todos que o viram pensaram que ele fosse um deus”.

Impressionado com a performance de Hendrix, Chandler retorna em setembro, e após muita negociação, o convence a assinar um contrato que nomeava ele e Michael Jeffery (ex-empresário dos Animals) como seus empresários, e a ir para Londres. A partir de então a carreira de Jimi deslancharia.

Chas Chandler: Ex-baixista dos Animals e empresário de Jimi Hendrix

Sobre esta apresentação conferida por Chandler no Cafe Wha?, Linda afirmou:

Bem, foi bastante alucinante e não fico surpresa que ele tenha explodido a cabeça de Chas com o primeiro acorde. Surpreendeu até a mim – e eu sabia o que estava por vir!”.

Como foi a partir da ligação de Hendrix com Chas Chandler que ele teve sua ascensão comercial, pode-se dizer que Linda Keith, que então tinha 20 anos e era modelo da Vogue, foi de importância primordial para a vida de Jimi.

Não bastasse ela ter sido responsável por este encontro, ela ainda desempenhara outro papel fundamental: O de ter dado a Hendrix a Fender Stratocaster branca que se tornou sua marca registrada. Agora pasmem: A guitarra pertencia a Keith Richards!

Sobre o episódio, Keith Richards afirmou, em sua autobiografia Vida:

Ela então encontrou Jimi Hendrix, o viu tocar e adotou a carreira dele como sendo sua missão, tentou conseguir um contrato de gravação para ele com Andrew Oldham. Em seu entusiasmo, durante uma longa noite com Jimi, ela deu a ele minha Fender Stratocaster que estava no meu quarto de hotel. E, conta Linda, ela também pegou uma cópia de uma demo que eu tinha de Tim Rose, cantando uma canção chamada Hey Joe. Levou-a para a casa de Roberta Goldstein, onde Jimi estava, e tocou para ele. Isso é a história do rock and roll. Pelo jeito, ele acabou recebendo a canção de mim.”

De acordo com esta história, além de ter dado a ele sua guitarra principal e apresentado a ele o empresário que o faria acontecer, Linda também apresentara a Jimi a composição que seria seu primeiro single e um de seus maiores hits.

Linda Keith

Por conta deste interesse dela pela carreira de Hendrix, levantaram-se suspeitas de que ambos estivessem tendo um caso. De acordo com Keith Richards, as amigas de Linda afirmavam que ela estava muito apaixonada por Jimi, mas aparentemente não era uma paixão correspondida. Ela inclusive se sentiu um pouco abandonada quando Jimi foi com Chas para Londres:

Ele tinha um empresário, uma namorada e outras pessoas dizendo a ele como ser e minha influência foi possivelmente vista como um algum tipo de ameaça. Talvez eles pensaram que eu tentaria influenciá-lo (a mudar) de um som comercial para um blues mais purista.”

Depois de se afastarem por alguns anos, eles retomaram contato um pouco antes da morte de Jimi, que lhe escreveu uma carta dizendo estar compondo uma nova canção.

 

“London Years”: O nascimento de uma lenda

Jimi chega a Londres em 24 de setembro de 1966, onde abandona o nome Jimmy James e se torna Jimi Hendrix, por sugestão de Chas.

O baterista Mitch Mitchell (ex-integrante da banda do programa televisivo “Ready Steady Go” e da George Fame’s Blue Flames) e o baixista Noel Redding (ex-integrante da Modern Jazz Group e Loving Kind) foram recrutados por Chandler para formar um trio com Hendrix. Estava formada The Jimi Hendrix Experience, que se tornaria a quintessência do Power Trio (um dos mais célebres formatos de banda do rock, composto pela formação básica de guitarra, baixo e bateria).

A formação clássica da Jimi Hendrix Experience, em detalhe da capa de seu disco de debut

Se tivesse apenas sugerido a mudança do nome artístico e apresentado Mitchell e Redding, Chandler já teria cumprido seu papel, mas ele fez muito mais, tendo sido um fiel amigo e permanecido como empresário durante todo o período de existência do trio.

Hendrix parece ser bem consciente da importância de Chas e da virada que ele representou em sua vida:

Sempre tive a sensação de que, se estivesse certo, um dia eu teria uma chance. Levei muito tempo perambulando e tocando em troca de uma ninharia, mas acho que valeu a pena. Caramba! Acho que eu não aguentaria mais um ano tocando em função dos outros. Ainda bem que Chas me salvou.”

Jimi também gostava muito de Mitch Mitchell, com quem tocou por boa parte da carreira, como fica claro nesta declaração dada ao Melody Maker em 1968:

Mitch é o único que me preocupo em perder. Ele é um pequeno monstro na bateria. E está se tornando tão forte atrás de mim que ele me assusta.”

Em outubro o trio realiza os primeiros shows, nos dias 13 e 18. A recepção do público a esta segunda apresentação, que durou apenas 15 minutos, foi estrondosa, marcando o primeiro registro em áudio da Experience.

Os empresários do Who haviam acabado de lançar uma gravadora, a Track Records, e assinaram um contrato com a Experience. Em 23 de outubro eles gravam sua versão de Hey Joe (composição gravada anteriormente pelo grupo The Leaves e por Tim Rose), e em 02 de novembro, Stone Free, a primeira composição de Hendrix após sua chegada em Londres. Estas duas músicas foram lançadas respectivamente como lado A e lado B do primeiro single, em 16 de dezembro, em um acordo de distribuição com a gigante Polydor.

Ainda em novembro, realizam uma apresentação no Bag O’Nails, um clube noturno em Londres, que foi assistida por várias “cabeças coroadas” da realeza do rock britânico: John Lennon, Paul McCartney, Mick Jagger, Brian Jones, Pete Towshend, Jeff Beck, entre outros.

Este show rendeu a primeira entrevista de Hendrix, para o Record Mirror, um importante periódico musical britânico. Nesta entrevista, questionado sobre como a Experience gostaria de ser rotulada, Hendrix declarou:

Nós não queremos ser classificados em nenhuma categoria. Se precisar de uma etiqueta, eu gostaria que se chamasse Free Feeling, uma mistura de rock, freak-out, rave e blues.”

Hendrix tocou nos prestigiados programas televisivos britânicos Ready Steady Go! e Top of the Pops, e em dezembro Hey Joe entrou nas paradas britânicas alcançando o sexto lugar. Em março do ano seguinte, Purple Haze alcançaria o pódio com o terceiro lugar.

A ascensão de Hendrix como uma estrela do rock era cada vez mais visível a qualquer um que estivesse com os olhos (e os ouvidos) abertos.

Em 31 de março, a apresentação no London Astoria garantiu seu lugar na história do rock e alçou Hendrix ao Olimpo dos deuses do rock com uma performance – literalmente – incendiária.

Cartaz de divulgação do que viria a ser um dos mais marcantes shows de Hendrix

Após 45 minutos durante os quais Hendrix fez a guitarra chorar e esbanjou seus truques guitarrísticos e performáticos, ele encharcou sua Fender Stratocaster com fluído de isqueiro e ateou fogo nela, enquanto fazia gestos em transe. O resto é história.

Nas semanas seguintes concluem as gravações do que se tornaria o primeiro álbum, Are You Experienced?, que marcaria a história do rock e o final dos anos 60. As gravações deste álbum clássico se iniciaram no De Lane Lea Studios e se concluíram no cultuado Olympic Studios, ambos em Londres. Confira o review desta obra de arte em nossa Discografia Selecionada e Comentada, ao final desta matéria.

Em 04 de junho, no show realizado no Saville Theater, Hendrix tocou uma versão da música Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, que havia sido lançada apenas inacreditáveis três dias antes. Na plateia estavam George Harrison e Paul McCartney, que ficaram assombrados.

Fragmentos da guitarra usada no show do Saville Theater, na qual Jimi tocou Sgt. Pepper’s

Sobre o episódio, Paul declarou: “As cortinas se abriram e ele caminhou para a frente do palco tocando Sgt. Pepper’s. É um tremendo elogio para qualquer um. Eu coloco isso como uma das grandes honras da minha carreira.”

Durante boa parte dos meses que Jimi viveu em Londres neste período, ele dividiu residência com Ron Wood (que mais tarde integraria os Rolling Stones mas neste momento tocava no Jeff Beck Group).

Ronnie conta um pouco desta história em sua autobiografia, revelando detalhes do dia a dia de Hendrix neste período:

Durante seis meses, dividi moradia com Jimi Hendrix em Holland Park, quando ele veio pela primeira vez à Inglaterra. Na verdade, ficamos na casa de PP Arnold, que alugou o porão para Jimi e o piso térreo para mim, enquanto ela vivia no apartamento grande, na parte de cima.

(…) Jimi adorava Londres, onde parecia se encaixar tão bem. Também gostava muito de seu chapéu, que não tirava de jeito nenhum. Ele vivia drogado em nossa casa, ficando doidão na maior parte do tempo. Definitivamente, era muito mais viciado que eu, que me sentia feliz com essa vida agitada, mas não queria ficar tão caído. Apesar de rirmos juntos de vez em quando, Jimi viajava permanentemente para outro planeta, muito chapado.

 Fora dali, estávamos realmente muito ocupados, fazendo shows, dando entrevistas, entrando e saindo do país. Por isso, não nos víamos durante semanas. Mas, nas ocasiões em que ficamos juntos, Jimi era um agradável colega de apartamento.

(…) Mas o que me deixou impressionado foi sua baixa autoestima e falta de confiança. Não acreditei quando, naquela noite, Jimi me confessou que odiava a própria voz. Achava que não deveria cantar no palco, mas apenas tocar. Era isso o que ele realmente queria fazer. Somente tocar. Eu lhe disse para largar mão de ser ridículo e pensar em sua voz como outro instrumento.

 Ele deve ter gostado do que falei, porque foi até a estante pegar dois discos para me dar de presente. Eu não conhecia nenhum destes álbuns, e ele insistiu para que ficasse com ambos. O primeiro era “James Brown Live at the Apollo 1962”. E o segundo, “B.B. King Live at the Regal”, gravado em 1964, quando o Regal de Chicago era uma versão do Teatro Apollo de Nova York.

(…) Jimi nunca soube que, ao me dar esses dois discos, modificaria meu panorama musical para sempre. Graças a eles, passei a tocar muito melhor. Mas esses não foram os únicos presentes que Jimi me deu. Numa tarde, ele voltou para o apartamento com um cão Basset chamado Loopy. Não soube onde nem como conseguiu tal cachorro. Ele passava algum tempo com Loopy, mas, quando viajava, não tinha como cuidar dele. Assim, como eu adorava o cão, ele o deu de presente para mim. E achei aquilo muito legal. Mas, como Loopy nunca tinha sido adestrado, costumava cagar no chão do apartamento. Já Pat Arnold, que não achava aquilo tudo bacana, resolveu colocar Loopy e eu para fora.

Esta conversa com Ron deve ter realmente ajudado Jimi a rever o conceito sobre sua própria voz. Em uma entrevista dada 3 anos depois, em março de 1970, publicada em maio, Hendrix declara:

Cantando… Eu costumava ter vergonha da minha voz. Nós a soterramos nos primeiros álbuns que fiz, mas aí eu percebi que estava julgando por padrões errados. Dylan tem uma voz péssima tecnicamente, mas é boa porque ele canta coisas em que ele acredita. Sentimentos verdadeiros são realmente as únicas qualidades que valem a pena ouvir em uma voz.

 

Monterey Pop Festival (18 de junho de 1967)

Por interferência e insistência de Paul McCartney junto aos produtores, o trio é convidado a se apresentar no Monterey, festival que teve 3 dias de duração e trouxe nomes como Johnny Rivers, Simon & Gurfunkel, Mamas and Papas e The Who, entre outros.

A Experience tocou no domingo, dia que fechava o festival, arrebatando o público norte-americano que pela primeira vez conferia a performance arrebatadora de Hendrix, com os “truques” de atear fogo no instrumento e tocá-lo com os dentes. A apresentação foi feita por ninguém menos que Brian Jones, que introduziu Hendrix ao público como o “maior artista que já escutei”.

Fragmentos da guitarra usada – e quebrada/incendiada – no Monterey Pop Festival

Steve Miller (o virtuoso guitarrista e líder da Steve Miller Band) é uma testemunha de primeira mão e falou um pouco sobre os bastidores desta noite, sobre o show em si e sobre o impacto que teve sobre ele:

A primeira vez que encontrei Jimi foi no Monterey Pop Festival. Havíamos feito uma breve jam na noite anterior, mas eu nunca tinha visto ou ouvido Hendrix tocando com seu trio. Por sorte, eu estava com Jimi no backstage antes de ele entrar. Ele estava bem pirado. Achei que estava chapado de ácido e me perguntei como conseguiria tocar.

O Who havia acabado de fazer sua apresentação e o público estava em choque. Ninguém havia visto uma banda destruir seu equipamento daquela maneira e o palco estava uma baderna. Muito equipamento tinha sido quebrado e microfones e monitores não funcionavam. Tudo teve de ser refeito – houve uma longa espera e muita confusão.

Fiquei imediatamente maravilhado quando Jimi abriu como Killing Floor. Já havia ouvido Wolf e Hubert tocarem esta canção muitas vezes em Chicago, mas, quando vi o que Jimi fez com ela, era como se o que eu estivesse tentando fazer por anos ficasse de repente perfeitamente claro. Logo reconheci o que queria e estava procurando. Fiquei magoado por um instante, por ver alguém estar tão à frente em relação a mim, mas superei este sentimento no segundo refrão, porque estava totalmente arrebatado pelo que ele fazia.

Então, ele tocou Foxy Lady. Uau, que momento! O som era profundo, poderoso e livre. Aí veio Like a Rolling Stone, que foi muito bacana e inteligente, porque expandia tudo e incluía ainda mais daquilo que todos estavam sentindo e pensando. Rock Me Baby sempre foi uma de minhas músicas favoritas, e a maneira como Jimi a tocou foi muito divertida. Era naquilo que o blues de Chicago precisava se transformar.

Hey Joe veio em seguida. Que diabos? Foi instantaneamente uma música grandiosa. Can You See Me foi seguida de The Wind Cries Mary, que tinha muita alma e beleza. Depois vieram Purple Haze e Wild Thing. Apenas nove canções e tudo no meu mundo musical se encaixou e um rumo para o futuro ficou claro. Era bom demais ouvir estas músicas tocadas de maneira tão bela e enérgica, por um performer tão agressivo.

Quando Jimi decidiu queimar a guitarra, foi algo esquisito e doloroso de se ver depois de uma apresentação tão boa, e fiquei constrangido por ele. Mas aconteceu. Não estamos em um mundo perfeito, mas, por alguns minutos, ficou perfeito. Eu tinha 24 anos naquela noite e tive a sorte de me tornar amigo de Jimi. Pude vê-lo tocando ao vivo muitas vezes. Saímos juntos e sempre pensei que ele era o Duke Ellington do mundo do rock. Quando morreu, aos 27 anos, perdemos um universo de ideias musicais. Ele era o maior mestre da Stratocaster e o fazia com total simplicidade e clareza. Sua música era uma dádiva.”

Sobre este ato final de despedaçar e colocar fogo em sua guitarra, Jimi declarou:

“Eu decidi destruir minha guitarra no final da música como um sacrifício. Você sacrifica coisas que ama. Eu amo minha guitarra.”

Hendrix na clássica foto de Ed Caraeff

A icônica imagem de Hendrix ajoelhado em frente de sua guitarra, evocando as chamas com os dedos, foi captada por Ed Caraeff, um jovem de apenas 17 anos. A imagem era originalmente monocromática e foi posteriormente colorida pela Rolling Stone, que a utilizou como capa de uma de suas edições.

Ouça aqui a íntegra deste antológico show.

 

Mais shows, mais gravações e algumas confusões

Na sequência, a Experience faz alguns outros shows, como os do Fillmore West (ao lado de Jefferson Airplane e Big Brother and the Holding Company – a banda de Janis Joplin), um concerto ao ar livre no Golden Gate Park e uma passagem pelo Whisky a Go Go.

A banda foi então agendada para abrir os shows dos Monkees. O bizarro acordo foi motivado pelos rapazes dos Monkees serem fãs de Hendrix, mas as altas doses de experimentalismo não agradaram ao público adolescente da banda, e a experiência durou apenas seis apresentações, mas se revelou uma ótima jogada de Chas Chandler para atrair mais publicidade para o trio sob sua proteção.

Depois de uma extenuante agenda de cerca de 180 shows em 1967, em dezembro é lançado o segundo disco, Axis: Bold As Love (confira o review ao final desta matéria, em nossa Discografia Selecionada e Comentada). Ao mesmo tempo, a Capitol lançava “Get the Feeling“, gravações que restaram do trabalho de Jimi com Curtis Knight, o que desandou a relação entre os empresários.

Ainda em dezembro deste ano começam a gravar o disco que seria lançado em outubro do ano seguinte, Electric Ladyland, o primeiro trabalho do trio a contar com a presença de músicos convidados: O respeitado Stevie Winwood (órgão) e Jack Casady (baixo), que tocava no Jefferson Airplane. É também o trabalho que mais se arriscava em experiências sonoras diferenciadas até então.

Em janeiro de 1968 Hendrix é preso na Suécia por quebrar um quarto de hotel, supostamente após uma discussão com o baixista Noel Redding. Após a detenção Hendrix foi liberado sob o compromisso de se apresentar à delegacia de polícia local todos os dias às 14 horas, por duas semanas.

As tensões internas do grupo ficam cada vez maiores, agravadas pelos incessantes compromissos e apresentações, uma rotina exaustiva de gravações e abuso de drogas. Por volta desta época, Hendrix começa a demonstrar a preocupação de não ser mais “um palhaço”, considerando-se um músico e não um rock star.

No começo de 1969, a dissolução da Experience era iminente. Após uma breve tour pela Europa em janeiro, onde tocaram na Escandinávia, Alemanha e França, fizeram duas apresentações no Royal Albert Hall, em Londres, nos dias 18 e 24 de fevereiro, tendo sido suas últimas performances naquele lado do Atlântico.

Em maio, Hendrix é preso em Toronto, no Canadá, por posse de drogas, quando as autoridades do aeroporto internacional encontraram uma pequena quantidade de haxixe e heroína em sua bagagem. Foi solto em seguida sob fiança de 10 mil dólares, mas o episódio foi relativamente traumático para Hendrix, que ficou muito apreensivo com a possibilidade de ser preso nos sete meses seguintes em que aguardou pelo julgamento, no qual foi inocentado das acusações.

Em junho, o grupo participou do Denver Pop Festival, que ficou negativamente marcado pelas imagens da polícia dispersando o público com gás lacrimogêneo. Este show também marca a última apresentação ao vivo desta formação.

Antes da apresentação, um repórter havia falado a Noel Redding sobre uma declaração que Hendrix dera duas semanas antes, dizendo que pretendia substituir o baixista por Billy Cox. Redding não estava ciente deste fato e isso o deixou enfurecido, o que motivou sua saída no dia seguinte, pondo fim à trajetória do mais influente power trio da história do rock.

Logo após a saída de Redding, em julho Jimi faz sua primeira aparição na televisão norte-americana, no The Dick Cavett Show, sendo apoiado apenas pelos músicos da orquestra do estúdio.

Confira o vídeo com um trecho desta performance de Hendrix.

Um pouco depois Jimi se apresenta em mais um programa televisivo, The Tonight Show, desta vez com Billy Cox (com quem já havia tocado nos anos de exército) no baixo e um baterista contratado, Ed Shaughnessy.

 

Woodstock (Agosto de 1969)

Hendrix realizara algumas gravações com o baterista Buddy Miles e Billy Cox, mas ao ser convidado para o Woodstock, monta uma banda especialmente para a ocasião: a Gypsy Sun & Rainbows, com Mitchell na bateria, Cox no baixo e a adição de mais três músicos, o guitarrista Larry Lee e os percussionistas Juma Sultan e Jerry Velez.

Hendrix em Woodstock

O calendário oficial do evento previa shows entre os dias 15 (sexta) e 17 (domingo) de agosto, mas a apresentação de Hendrix acontece já na manhã do dia 18, sob os primeiros raios de sol daquela segunda-feira. Boa parte do público do festival (estimado em quase meio milhão de pessoas) já havia ido embora, mas o “reduzido” público de cerca de 30 mil pessoas que ali permaneceu assistiu a história acontecer sob seus olhos e ouvidos.

O show em si foi histórico, e a arrebatadora performance de Hendrix pode ser conferida no farto material já lançado, tanto em áudio quanto em vídeo, já que ela foi muito bem documentada.

Hendrix de fente pro público do Woodstock

Em que pese o muito que já foi escrito e falado, impossível não comentar a execução do hino norte-americano, o Star Spangled Banner, que é destruído, reconstruído e ressignificado pelas seis cordas mágicas de Hendrix, tendo se tornado um dos momentos mais icônicos e representativos não apenas do rock em si, mas do próprio século XX como um todo.

Impossível avaliar a extensão do impacto psicológico e cultural sobre a juventude norte-americana do final dos anos 60/começo dos anos 70, bem como a importância política deste ato de Hendrix, que ao emular sons de aviões e bombas em seu impressionante domínio dos sons da guitarra (microfonias, alavancadas, distorção), fez alusão à guerra do Vietnã que acontecia naquele momento.

Importante lembrar que muitos daqueles jovens (pra não dizer todos) conheciam no mínimo uma pessoa que havia sido compulsoriamente recrutada e que fora gravemente ferida ou mesmo perdera a vida nos campos de batalha, muito longe de casa: Um irmão, um primo, um namorado, um vizinho, colega ou amigo querido.

A execução de Hendrix foi amplamente noticiada e ajudou a aumentar a pressão da opinião pública e da sociedade civil norte-americana pelo fim da guerra, que foi um dos mais importantes “conflitos quentes” da chamada Guerra Fria.

 

Band of Gypsys

Jimi realizava gravações com Cox e jams com o baterista Buddy Miles há alguns meses, e no final de 1969 decide criar a Band of Gypsys.

Todos os músicos eram negros, o que muitos biógrafos consideram um ato intencional de Hendrix para aplacar os ânimos do movimento negro, em especial dos Panteras Negras, que há algum tempo criticavam Jimi por se apresentar com músicos brancos para plateias brancas.

Band of Gypsys: Billy Cox, Jimi Hendrix e Buddy MIles

Hendrix se sentia frustrado com estas acusações. Em agosto de 1969, ele falou ao New York Times sobre o tema:

“Às vezes quando eu apareço por aqui [no Harlem], as pessoas dizem, ‘Ele toca rock de branco pra gente branca, o que ele está fazendo aqui?’ Eu quero mostrar a eles que a música é universal – que não existe rock de branco ou rock de preto.”

A estreia da Band of Gypsys se deu numa série de 4 shows em Fillmore East (Nova York), entre os dias 31 de dezembro de 1969 e 01 de janeiro de 1970. Estas apresentações foram gravadas e lançadas como o disco ao vivo Band of Gypsys.

No dia 01, Hendrix foi entrevistado pelo The New York Post para uma matéria que foi publicada no dia seguinte. Questionado sobre os motivos da mudança de banda, Jimi respondeu:

“Terra, cara, Terra”.

Como se com a Experience a música tivesse ido longe demais no espaço.

Agora eu quero trazer de volta para a Terra. Eu quero voltar ao blues, porque é o que sou”.

Em seguida, o entrevistador pergunta sobre uma possível volta da formação original da Experience, e Jimi é taxativo:

Com Mitch, talvez, mas não com Noel, com certeza. Tem outra coisa. Esta é uma coisa mais real. Nós estamos tentando colocar de pé. Estamos esperando por Stevie Winwood. Se eu conseguir falar com ele e ele concordar, será mais uma voz. Teremos harmonia por dias.”

A Band of Gypsys teve vida muito curta, terminando já na apresentação seguinte, no dia 28 de janeiro, em pleno Madison Square Garden, quando Hendrix interrompe a apresentação na segunda música, dizendo “desculpem, mas não podemos mais ficar juntos”.

Buddy e Billy acusam o empresário de Hendrix, Michael Jeffery, de ter dado LSD a Hendrix antes da apresentação numa tentativa de sabotar esta formação e assim ter uma chance de reunir novamente o time da Experience.

Sobre o episódio, Hendrix falou a John Burks, então editor chefe da Rolling Stone, em 04 de fevereiro:

Eu achei que o Madison Square Garden era como o fim de um grande, longo conto de fadas, o que é ótimo. É a melhor coisa que eu poderia imaginar. A banda estava excelente, no que me diz respeito”.

Questionado sobre o que teria acontecido com ele, Hendrix afirmou:

Eu estava com a cabeça em outro lugar, apenas passando por mudanças. Eu realmente não saberia dizer, para falar a verdade. Eu estava muito cansado. Sabe, às vezes há muitas coisas que se somam na sua cabeça, sobre isso e aquilo. E elas batem em você em um momento muito peculiar, que por acaso foi no comício da paz, e aqui estou eu lutando a maior guerra que já lutei na minha vida – por dentro, sabe? E tipo, aquele não era o lugar para fazer isso, então eu apenas desmascarei as aparências”.

 

Os últimos dias de Jimi: Drogas e Rock’n’Roll

As acusações de Miles e Cox ganham força ao se constatar que de fato, logo após o incidente, Jeffery mexeu os pauzinhos para reunir novamente a Experience. O trio, novamente com Mitchell na bateria e Redding no baixo, chegou a dar uma entrevista para a Rolling Stone em fevereiro, mas durante uma viagem, Redding foi informado de que seria substituído por Cox.

Estava montada a segunda formação da Jimi Hendrix Experience, que realizou duas apresentações em Berkley. Este time entra em estúdio para registrar o que seria postumamente lançado no ano seguinte sob o título The Cry of Love.

Após as gravações, iniciam o que seria a última turnê de Hendrix, com uma “perna” nos EUA e outra na Europa. Alguns destes shows foram catastróficos, devido ao abuso de drogas por parte de Jimi, mas parte deles foram brilhantes e são considerados alguns dos melhores registros de Hendrix ao vivo.

Entre estes, destaca-se a apresentação no Atlanta Pop Festival, em 04 de Julho de 1970, com público estimado em cerca de 500 mil pessoas, o maior para o qual Hendrix tocou em sua carreira.

Em 17 de julho de 1970, no New York Pop Festival, Hendrix novamente fica doidão e chega a ofender a plateia numa apresentação desastrosa. Com um total de 32 shows, a etapa norte-americana da turnê chega ao fim em 01 de agosto, em Honolulu, no Hawaii.

Na etapa europeia, destaca-se a apresentação no Festival da Ilha de Wight, nas primeiras horas do dia 31 de agosto. Este festival contou com grandes nomes da música mundial, como The Who, The Doors, Emerson, Lake & Palmer, Jethro Tull, Supertramp, Miles Davis e até dos brasileiros Caetano Veloso e Gilberto Gil, entre outros.

Na Dinamarca, no dia 02 de setembro, Hendrix abandona o palco depois de apenas 3 músicas, proferindo as palavras “Tenho estado morto por muito tempo”.

Parte deste comportamento aparentemente descompromissado de Jimi pode ser explicado pelo anseio de voltar aos EUA e desfrutar de seu recém-construído estúdio, o Electric Ladyland, no qual tinha gasto uma fortuna.

No dia 06, no Festival da Ilha de Fehmarn, realiza seu último concerto oficial, onde recebe algumas vaias devido ao cancelamento de um show previsto para a noite anterior, que não ocorreu devido à tempestade e consequente risco de eletrocussão.

Logo após o show viajam para Londres, mas três dias depois, Billy Cox abandona a turnê devido a uma crise de paranoia causada pelo alto consumo de LSD. Nestes dias, Hendrix teria conversado com algumas pessoas, como seu amigo e ex-empresário Chas Chandler, sobre a vontade de encerrar o contrato com seu então empresário, Michael Jeffery.

No dia 16 de setembro, Jimi realiza sua última aparição pública, informal, numa jam com a banda de Eric Burden (ex-Animals) no Ronnie Scott’s Jazz Club, onde teria tocado de forma atipicamente tímida, sem sombra da genialidade virtuosística que o consagrou. Em menos de 2 dias, Jimi encerraria sua trajetória no plano material.

Ron Wood estava presente no Ronnie Scott’s e relembra em sua autobiografia a última vez em que viu Hendrix:

Na noite que antecedeu sua morte, estivemos juntos no Ronnie Scott Club, no Soho, de onde saímos muito tarde, em companhia de outros caras. De repente, Jimi começou a caminhar pela rua sem dizer boa noite. Corri atrás dele e o encontrei descendo a rampa do clube, com uma garota encolhida em seu ombro direito. Então, eu gritei: Ei, Jimi, você se esqueceu de dizer boa noite! Ele olhou por cima do ombro, viu que era eu e sussurrou tranquilamente: Boa noite.”

Esta impressionante passagem corrobora a tese de que Hendrix previra a própria morte. Em um bilhete achado em seu quarto, Hendrix escrevera poucos dias antes de morrer:

É preciso morrer para que comecem a nos dar algum valor. Quando a gente morre, está feito na vida. Quando eu morrer, continuem tocando meus discos.”

 

O Fim?

Na manhã de 18 de Setembro de 1970, Monika Dannemann, então namorada de Hendrix, o encontra ainda respirando, mas inerte e com o rosto coberto de vômito. Às 11:18, chama uma ambulância, que chega às 11:27.

Levaram-no para o St. Mary Abbot Hospital, onde às 12:45 foi declarada sua morte pelo médico John Bannister. O diagnóstico feito três dias depois pelo patologista forense Robert Donald Teare atesta que a causa mortis foi asfixia causada pela inalação de vômito decorrente de intoxicação por barbitúricos.

Há cerca de 10 anos, alguns biógrafos levantaram uma polêmica que coloca em cheque a versão da morte de Hendrix como acidental. De acordo com eles, Michael Jeffery, o empresário de Jimi, teria feito ele ingerir vinho enquanto estava desacordado, descontente com os rumos que Hendrix tomava em direção a uma maior autonomia.

Morte acidental ou intencionalmente induzida, o fato é que, aos 27 anos, chegava ao fim a vida do homem, começava a lenda. Jimi se tornou um dos primeiros mártires do rock e o mais célebre membro do famigerado “clube dos 27”. A morte de Jimi é considerada um dos eventos que encerraram oficialmente os anos 60 e o sonho hippie. Dream is over?

 

O Legado

Conforme pode ser verificado em fartos relatos de músicos e nos próprios depoimentos exclusivos (confira abaixo) de alguns dos guitar heroes brasileiros, a música de Hendrix marcou indelevelmente a história do rock e o eixo evolutivo da música pop.

Em sua já citada autobiografia, Ron Wood fala sobre o estilo de Jimi na guitarra e o impacto de sua morte:

Eu adorava sua liberdade e sua fluidez nos movimentos sobre o braço da guitarra, mesmo quando ele estava muito chapado. Todos nós sabemos como Jimi tocava, mas, realmente, vê-lo ao vivo era outra coisa. Ele me nocauteou.

(…) O tempo que passei com Jimi sempre foi agradável, Ele adorava fumar baseados e tomar qualudes. Cinco anos mais velho que eu, Jimi morreu com 27 anos, mas parecia muito mais velho. Sua morte foi realmente um choque, um verdadeiro golpe.”

A música de Jimi era única, sem precedentes ou paralelos. Na já citada entrevista a John Burks, questionado sobre o fato de seu gosto musical ser mais abrangente que de um típico ouvinte de rock, Hendrix afirmou:

Isso é tudo que eu posso tocar quando estou tocando. Eu gostaria de juntar alguma coisa, tipo com Handel, e Bach, e Muddy Waters, com um lance meio flamenco (risos). Se eu conseguir este som. Se eu conseguisse este som, eu seria feliz.”

Mal sabia ele.

 

Depoimentos

A fim de enriquecer a matéria, NESM pediu declarações exclusivas de três dos principais guitarristas do rock brasileiro sobre o impacto que Jimi teve em suas formações musicais e trajetórias artísticas. Confira:

Frejat:

Já tive a oportunidade de entrevistar Frejat algumas vezes, tanto pela extinta revista Guitar Player Brasil quanto pelo Não É Só Música (confira aqui esta entrevista completa). Em várias delas, Frejat citou Hendrix como uma de suas influências seminais, embora sempre tenha deixado claro que sente esta influência mais de uma forma artística e geral do que de forma técnica e específica. Aqui ele conta um pouco mais sobre o quanto sua formação musical tem de Jimi Hendrix:

Jimi Hendrix para mim é a presença mais perfeita da guitarra elétrica no rock. Eu o considero um grande instrumentista, muito menos pelo aspecto virtuoso de seu jeito de tocar, mas por tudo que ele representa.

Tecnicamente no momento em que ele apareceu na cena não havia ninguém com maior domínio do instrumento, pois ele tocava o que cantava, cantava o que tocava ou fazia as duas coisas, cantava e tocava de forma independente.

Além disso e talvez o mais importante, ele resgata a propriedade do rock para os negros, pois esse tipo de música nasceu da mistura que Chuck Berry, Little Richards, Bo Diddley, entre outros criaram no meio dos anos 50 e que resgatada pelos garotos ingleses nos anos 60 estava sendo expropriada da cultura onde nasceu. Hendrix retomou essa posse e foi questionado por ambos os lados por isso, pelo Black Power e pelo sistema, mas seguiu em frente.

Já comentei algumas vezes que ao assistir Pepeu pela primeira vez, e o vendo abrasileirar Jimi Hendrix, me senti afirmado na possibilidade de ser um guitarrista brasileiro.

Ele continua presente como referência da guitarra por tudo que fez 50 anos atrás e isso não é um feito fácil se você pensar em como a música mudou de 1970 pra cá. De minha parte, percebo a sua influência na minha guitarra de uma forma subliminar: alguns fraseados, os blues, o timbre em alguns momentos, mas principalmente na forma de ver a guitarra, o rock, a música negra e em ser um artista. Nesse sentido ele é a minha referência maior.”

 
Herbert Vianna:

Ainda me lembro como se fosse hoje da primeira vez que Herbert estampou as capas das revistas especializadas em guitarra, por volta do finalzinho da década de 90. Naquele momento ele havia acabado de receber um endorsement da Gibson, uma das mais renomadas marcas de guitarra da história do rock. Na publicidade que estampava a parte de trás da capa, os dizeres: “O nosso Guitar Hero”. De fato, Herbert teve papel fundamental na valorização do rock feito no Brasil a partir da década de 80. A nosso pedido, Herbert contou um pouco sobre o significado de Hendrix:

Bom, um certo jovem, chamado James Marshall Hendrix, o popular Jimi Hendrix, chegou na Inglaterra, foi se desenvolvendo como guitarrista, e acabou assombrando o planeta com a criatividade dele.

Com suas raízes de música negra, sua profundidade bluesy e com seu senso de espetáculo, de showmanship, quer dizer, de ser um homem de frente das batalhas.

Herbert Vianna

Além das composições extremamente criativas e honestas, como Purple Haze, como todas os aspectos que refletiam os conflitos e passos para a evolução naquele momento.

Então, fez isso tudo, tendo uma habilidade sobrenatural na musicalidade, no desenvolvimento da sonoridade da guitarra, que deixou de ser um instrumentozinho de acompanhamento para ganhar realmente a frente do panorama do rock’n’roll.

Jimi Hendrix é único, é inigualável.”

 
Edgard Scandurra:

Dos três guitarristas que cederam depoimentos exclusivos para esta matéria, provavelmente Scandurra seja o que mais absorveu o estilo de Hendrix, ou ao menos aquele cujo som mais reflete as técnicas e sonoridades “hendrixianas”. Uma curiosidade – bem conhecida entre os fãs de Ira! – é que, apesar de canhoto como Jimi, e de inverter a guitarra como ele, Scandurra não inverte as cordas. Vejamos o que Edgard diz sobre a influência de Hendrix:

O Hendrix pra mim foi um cara que apareceu e mudou completamente o meu modo de pensar a música. Mesmo criança, eu conheci o Hendrix muito cedo, por causa do meu irmão que tocava, mais velho, e ele tocava e já ouvia Hendrix.

Edgard Scandurra em traje de luxo
Edgard Scandurra

Anos 60, eu ouvi o Hendrix. Eu comprei o disco pro meu irmão, eu acho que foi o Electric Ladyland, se não me engano, em 69. Eu dei este disco de presente pro meu irmão, comprei numa loja que vendia discos e tinha este disco pra vender.

E quando eu via o Hendrix, eu ficava muito emocionado com os sons de guitarra que ele fazia, que saíam dos acordes, que eram além dos acordes, eram ruídos, eram microfonias, eram alavancadas, eram os timbres espetaculares que ele conseguia tirar…

Uma mistura de dor, de prazer, de sentimentos muito intensos, através dos solos dele, dos timbres, das canções, da voz… Da banda, também, né, não podemos esquecer que ele tocava com o baterista Mitch Mitchell, que é um monstro da bateria, uma pessoa incrível. Tanto o Experience, quanto depois o Band of Gypsys, eram bandas incríveis, né?

E ouvi muito Hendrix, muito, muito, vários discos dele, aprendia a fazer solos de guitarra ouvindo Hendrix, tirei muitas músicas do Hendrix pra tocar, fiz muito sucesso (risos) como moleque, garoto, tocando estas músicas  no pátio da escola, eram os primeiros ensaios onde eu ia ver alguns músicos mais velhos que eu, eles me emprestavam a guitarra e eu tocava uma música do Hendrix…

Minha mãe, quando o Hendrix faleceu, ela percebeu a tristeza que ficou, pelo meu irmão, minha mãe chorou na morte do Hendrix, minha mãe que era uma senhora, que ouvia Francisco Alves, que ouvia bolero, ela se emocionou com a morte do Jimi Hendrix.

Foi muito cedo, provavelmente ao contrário de muitos que se tornam decadentes com o tempo, eu tenho certeza que ele teria deixado uma obra maravilhosa, porque ele, praticamente em 4 anos de vida profissional, deixou uma música maravilhosa que até hoje a gente descobre coisas novas nas músicas que a gente já ouviu tantas vezes.

Então acho que ele é o grande nome da guitarra, o grande nome da música pop, e vai ser assim por muitos e muitos e muitos anos, talvez para sempre.”

 

Discografia Selecionada e Comentada

 

Capa da edição norte-americana de Are You Experienced?
Are You Experienced? (1967)

Lançado na Inglaterra em 12 de maio de 1967, rapidamente alcança o segundo lugar da parada de discos, permanecendo por 33 semanas, só não tendo alcançado o primeiro lugar devido ao lançamento de Sgt. Pepper’s, dos Beatles.

É um disco tão recheado de hits que um desavisado poderia pensar tratar-se de uma coletânea de maiores sucessos. O álbum já abre com as “marteladas” (hammer-ons) de Hendrix gerando a microfonia inicial de Foxy Lady.

Na sequência vem Manic Depression, com seu riff com cromatismos, e Red House, com seu groove malicioso e longos solos baseados na pentatônica, a velha escala do blues.

Capa da edição britânica, que Hendrix odiou

A insanidade musical prossegue pelas próximas 14 faixas atordoantes, entre elas sucessos como Hey Joe, Purple Haze e The Wind Cries Mary.

É considerado um pouco cru em relação aos dois seguintes, e o próprio Jimi confirmou esta impressão, em janeiro de 69, à revista Hit Parader

Are You Experienced foi um dos álbuns mais diretos que já fizemos. O que ele estava dizendo era: Deixe-nos atravessar a parede, cara, queremos que você curta isso”.

Se você for ouvir apenas um disco de Hendrix em sua vida (o que seria desperdiça-la), ouça este.

Um dos álbuns mais clássicos e certamente um dos 10 mais importantes da história do rock. Absolutamente indispensável.

 

Linda arte da capa de Axis: Bold As Love
Axis: Bold As Love (1967)

Lançado em dezembro, apenas poucos meses depois do trabalho de estreia, o segundo disco quase teve seu lançamento arruinado quando Jimi esqueceu as fitas máster das gravações no banco de um táxi. Uma nova mixagem foi feita às pressas, o que não agradou a Jimi.

Também traz várias pérolas, incluindo algumas das mais célebres composições de Jimi, como Wait Until Tomorrow, Castles Made of Sand e Little Wing.

Foi o primeiro álbum de Hendrix a ser gravado em estéreo. Confira.

 

Arte minimalista da capa de Electric Ladyland
Electric Ladyland (1968)

Lançado originalmente como um álbum duplo, é considerado por muitos como o trabalho em que Hendrix levou mais longe as experimentações sonoras, fechando a “trilogia sagrada” lançada pela Experience. Fundamental para entender o rápido amadurecimento musical de Hendrix num espaço de tempo muito curto, realmente fecha o ciclo iniciado e desenvolvido pelos anteriores. Entre as faixas, destacam-se as duas que encerram o disco: All Along the Watchtower, recriação e intepretação fantásticas da composição de Dylan, e Voodoo Child (Slight Return). 

Ouça.

 

Capa de Band of Gypsys
Band of Gypsys

Único trabalho lançado pela Band of Gypsys, é composto por gravações selecionadas dos 4 shows realizados no Fillmore East na virada de 1969 para 70. Este disco foi lançado em um acordo que garantiu os direitos de distribuição a Ed Chalpin, o empresário com quem Hendrix havia incautamente assinado o duvidoso contrato de 1 dólar anos atrás.

Ouça o álbum na íntegra no Spotify.

 

Póstumos

 

Capa de The Cry of Love, disco póstumo
The Cry of Love (1971)

Composto basicamente por faixas em que Hendrix trabalhou no início de 1970 com a nova formação não oficial da Experience, com Mitchell na bateria e Billy Cox no baixo. Tanto Mitchell quanto Eddie Kramer, o famoso engenheiro de som que trabalhou em todos os álbuns de Hendrix, que produziram o disco, demonstraram descontentamento com o resultado final. A principal reclamação é de que não puderam incluir algumas faixas que desejavam, já que estas haviam sido inclusas em outros álbuns póstumos, lançados pela família de Jimi. 

Destaques para “Freedom” e “Angel”. Confira

 

Capa de First Rays of the New Rising Sun
First Rays of the New Rising Sun (1997) 

Este disco reúne a maior parte das faixas gravadas em 1970, abrangendo tanto algumas das músicas lançadas em The Cry Of Love, como parte das lançadas nos discos póstumos citados acima.

Ouça este disco no Spotify.

 

Equipamento

Os aspectos técnicos de execução e gravação não são a tônica da linha editorial de NESM, mas devido à importância de Hendrix para a história da guitarra, é importante comentar um pouco sobre o arsenal utilizado por Hendrix pra incendiar o mundo em sua meteórica carreira.

Procuramos aqui apresentar uma visão básica, destinada a ampliar um pouco a compreensão do universo guitarrístico para um público “leigo”. Guitarristas e aficionados por detalhes técnicos podem encontrar abundantes informações nas diversas publicações impressas destinadas ao tema e também em sites especializados na internet.

 

Guitarras

Hendrix era canhoto e optava por inverter tanto as cordas quanto a guitarra em si (com o braço da guitarra apontado para o lado direito, invés de pro lado esquerdo, como os destros fazem). A inversão das cordas era necessária para que os bordões (cordas mais graves) continuassem na parte de cima, e as cordas mais agudas, na parte de baixo.

Embora tenha tocado em outros modelos eventualmente, Hendrix se notabilizou pelo magistral uso da Stratocaster, modelo da Fender que é provavelmente o mais conhecido, cujas linhas ergonômicas de seu formato já se incorporaram ao imaginário coletivo.

A mais famosa é aquela com a qual tocou em Woodstock, na cor white vintage (branco envelhecido).

A mais icônica guitarra do rock

Além desta, tem a strato que foi feita em pedaços e queimada no Monterey Pop Festival.

Réplica perfeita da guitarra que Hendrix quebrou e queimou em Monterey
 
Efeitos

Hendrix foi um pioneiro no uso de efeitos, elevando a arte de tocar guitarra a novos patamares e mostrando que ruídos antes considerados indesejáveis – como distorções – podiam ser controlados e utilizados de forma musical.

Pedal Uni-Vibe

Entre os efeitos que Hendrix ajudou a popularizar, destacam-se o Wha-Wha, o Fuzz e o Oitavador (cujo efeito pode ser ouvido em Purple Haze).

Oitavador e Wah-Wah
 
Amplificadores

Hendrix usava primordialmente amplificadores britânicos de uma marca que coincidentemente levava parte de seu nome: Os Marshall, que Jimi conheceu em sua primeira viagem a Londres com Chas Chandler, quando formou a Experience.

Os amplificadores Marshall foram muito importantes para algumas características do som de Hendrix, como a distorção e o feedback, que ajudaram a definir o vocabulário da guitarra rock.

 

Fontes

Fontes impressas:

Jimi Hendrix por ele mesmo (Editora Zahar)

Secrets from the Masters: Conversations with Forty Great Guitar Players (Hal Leonard)

Becoming Jimi Hendrix (ainda não traduzido): Biografia escrita por Steven Roby e Brad Schreiber. Baseada em arquivos do FBI, da Justiça e do Exército dos EUA, o livro acompanha o período de formação do instrumentista, morto há três décadas, aos 27 anos.

Black Gold: The Lost Archives of Jimi Hendrix (ainda não traduzido), de Steven Roby.

Ron Wood – A Autobiografia de um Rolling Stone (Generale)

Keith Richards – Vida (Editora Globo)

Revista Guitar Player Brasil (várias edições, notadamente a de junho de 2012)

 

Links:

https://www.jimihendrix.com

https://www.jimihendrixcollector.com

https://www.theguardian.com/music/2013/sep/14/jimi-hendrix-linda-keith

https://www.guitarworld.com/features/eddie-kramer-jimi-hendrix-was-tough-on-himself-but-when-he-made-a-mistake-hed-turn-it-into-something-cool

https://www.musicradar.com/news/guitars/rare-jimi-hendrix-interview-songwriting-dylan-guitar-destruction-562566

https://www.rollingstone.com/feature/jimi-hendrixs-are-you-experienced-10-things-you-didnt-know-118456/ 

 

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