Entrevistas

Edgard Scandurra – Vivendo e Não Aprendendo

Edgard Scandurra em traje de luxo

Esta entrevista com Edgard Scandurra foi realizada como parte da análise sobre os 30 anos do clássico disco Vivendo e Não Aprendendo, que você pode ler aqui.

Leia também a entrevista com o Nasi.

Sem dúvidas um dos grandes “guitar heroes” brasileiros, um legítimo herói da guitarra com uma incrível paleta sonora. Neste disco é possível ouvir toda uma gama de cores, com a guitarra cumprindo o papel de costurar letra e melodia, com riffs, efeitos, solos e notas inesquecíveis. Na entrevista a seguir, Edgar não esconde o orgulho de pai coruja em relação a esta sua obra, que é de fato uma obra prima do rock brasileiro.

Edgard, você compôs todas as canções do disco, a maioria sozinho, e algumas em co-autoria. De onde surgiu inspiração musical pra tantas pérolas? E em relação às letras, o quanto elas foram impactadas pela conjuntura política, social e econômica do Brasil na época?

Bom, eu tinha realmente muita inspiração pra este trabalho, Vivendo E Não Aprendendo, tanto conceitual quanto de inspiração, inclusive pela minha idade, eu tinha 24 anos, quer dizer, uma idade em que você está cheio de indignações e cheio de ideias, e eu funciono muito como uma espécie de radar, captando as sintonias e as coisas que eu concordava e discordava na sociedade na época, e prezava muito pela minha solidão, pelos momentos que eu ficava sozinho e aproveitava muito estes momentos pra compor.

E os anos 80 eram realmente anos de muita inspiração, porque muita coisa estava acontecendo, uma coisa efervescente, tanto politicamente como socialmente, os costumes iam se mudando, preconceitos iam indo por terra, outros iam surgindo, enfim, não faltava inspiração.

Vocês tinham um conceito bem definido em mente para este trabalho, ou a coesão artística das faixas é resultado natural do momento político do país e do momento artístico que vocês viviam como músicos?

A gente tinha um conceito muito bem definido, principalmente eu, eu tinha desde a capa na minha cabeça já, o nome do disco, a ordem das músicas, neste disco, particularmente, eu me envolvi demais, neste trabalho de mixagem, de conceitos… e eu acho que o momento político do país ajudava muito, porque a gente tava no momento da abertura política, então todas as aspirações que as gerações anteriores tinham, de liberdade, de justiça, de democracia, a gente carregava um pouco dentro da nossa música, exceto que a gente veio do punk, e o punk de certa forma tinha uma certa ironia por todos os lados, por ter a sua vertente anárquica, né?

Então a gente não deixava de ter um pouquinho de anarquia na nossa poesia também, então às vezes ela aparece um pouco provocativa, às vezes um pouco existencialista, um pouco individualista, mas a gente tava muito conectado com os anseios de democracia na época, e até hoje.

Sei que você é fã de Pete Townshend e The Who. Acha que esta influência transparece de alguma maneira na sonoridade deste disco em particular? Que guitarristas e bandas mais faziam sua cabeça na época da composição das faixas e gravação das músicas?

Acho que bandas como The WhoThe JamClashSex PistolsLed ZeppelinBeatlesJimi HendrixGang of Four, enfim, uma gama gigante de bandas influenciava muito a gente naquela época, principalmente nos anos 80, esta relação que a gente tinha com os anos 60 era muito forte, talvez até mais forte do que a nossa relação com o The Who.

Agora, esta energia que o The Who mostrava, tanto eles quanto o Small Faces, quanto algumas bandas da época, principalmente desta temática mais modernista, ou mod, que nós abraçamos muito aqui, talvez a primeira banda brasileira a falar sobre esta cena mod, influenciava muito a gente, como a gente percebe hoje que nos anos 2000, 2010, os anos 80 são uma fonte inesgotável de influência pra todo mundo, a gente tinha muitas referências com os anos 60, inclusive o modo de se vestir da gente era muito diferente das outras bandas que eram mesmo new wave e usavam aqueles capotões de gosto duvidoso, e a gente tinha uma certa elegância que era uma coisa muito individual da banda e que tinha muita relação com esta influência de anos 60.

Ainda na terceira pergunta, os guitarristas eram sem dúvida os mesmo de hoje (risos)… Jimi HendrixJimmy PagePete TownshendPaul Weller, do The Jam, que parece um cara muito “basista”, menos solista que os outros, mas se a gente pega gravações ao vivo do The Jam você não acredita que é um trio, parece que são mais instrumentistas, e isso se deve muito à guitarra dele.

E outros caras que tinham por aí, não dá pra lembrar todos de uma vez porque eu aprendi a tocar ouvindo outros caras tocando, então as minhas influências às vezes são de guitarristas desconhecidos, de uma determinada faixa de uma música… dos Bee Gees, por exemplo, tem um solo de guitarra que me influenciou, um timbre de uma música de alguma banda desconhecida pode ter me influenciado e me inspirado a fazer algum solo importante da história do IRA!.

Como foram as sessões de gravação? Você chegou com os arranjos de guitarra todos criados, ou apenas tinha a harmonia e base das músicas prontas?

A gente tinha como meta um conceito que a gente chamava de “Anti-padrão puta som”, porque na época todos os sons pareciam que explodiam, aquele som anos 80, new wave, a caixa era forte – pow, pow – tudo era meio na cara, e a gente como tinha esta referência de anos 60, de um rock um pouco mais orgânico, a gente procurou evitar estas coisas, exploramos muito os pans, os lados das caixas de som, você ouvindo o Vivendo E Não Aprendendo com fone de ouvido você percebe muitas coisas acontecendo, do lado esquerdo, do lado direito, uma coisa meio proposital, muito influência destes trabalho experimentais de BeatlesStones, ou de The Who Sell Out (nome de um disco conceitual do The Who), Hendrix também…

Acho que é um trabalho muito conceitual da banda, e eu realmente levei muitas coisas escritas, até como se fosse um cronograma, um programinha a ser feito, principalmente durante as mixagens das músicas, onde eu tinha todas estas ideias de voz de um lado, bateria do outro, guitarra com efeito, de repente tira o efeito, entra uma voz, uma segunda voz por cima, são camadas conceituais que tornaram este disco com uma sonoridade realmente única.

Scandurra e sua indefectível Giannini verde

Que guitarras, amplificadores e efeitos você usou neste disco? 

Usei minha Giannini Supersonic, uma Rickenbacker que eu tinha na época, uma Rickenbacker de três captadores, eu não lembro o modelo, usei algumas guitarras do estúdio Nas Nuvens, de propriedade do Liminha, que ele tinha algumas guitarras lá, principalmente umas semi-acústicas da Gibson, 335.

Meus amplificadores eram um amplificador Vox de 100 watts, eu tinha um Seymour Duncan, também de 100 watts, que era um amplificador muito potente, com caixas Marshall, tinha também um Jazz Chorus lá, um amplificadorzinho que a princípio as pessoas ignoram, mas tem uma sonoridade muito legal, que contrastava com estes amplificadores mais clássicos… e meus pedais normais, um Wah-wah, Dunlop talvez, ou Vox, uma distorção simples…

Eu aproveitei muito os timbres dos amplis, e a colocação dos microfones, a gente experimentou um bocado lá, principalmente porque a gente ficou meio à vontade no estúdio, porque a gente teve… algumas discordâncias com o produtor, o primeiro produtor a princípio, o Liminha, então ele deixou a gente muito sozinho no estúdio, e isso foi bom porque a gente conheceu o Paulo Junqueiro, que na época era um engenheiro de som, hoje é um presidente, executivo do mundo da música, e ele nos ajudou bastante na realização deste projeto.

Por que Gritos na Multidão e Pobre Paulista foram tiradas da gravação de um show ao vivo? Quais suas lembranças desta apresentação?

Bom, a gente tinha uma manobra, na verdade, que a gente tentou usar como um meio de driblar as intenções da gravadora de usar estas músicas como músicas de trabalho, já que Pobre Paulista era um hino, que era cantada em todos os lugares que a gente tocava, e a gente não tinha muito interesse porque esta música por incrível que pareça em 86 já era velha pra gente.

Porque esta música é de uma banda anterior ao IRA! chamada Subúrbio, é uma música do finalzinho dos anos 70, então a gente já havia gravado no primeiro compacto do IRA! estas duas músicas, então nós ingenuamente achamos que gravando estas duas músicas ao vivo, elas perdiam a força pra gente fazer programas de TV, coisas assim.

Quer dizer, até que deu certo, porque o disco tinha outras músicas maravilhosas e estas músicas nunca foram músicas de trabalho do IRA!, mas esta ideia das músicas ao vivo perderem a força de divulgação foi por terra anos depois com os acústicos, com os discos ao vivo que todo mundo grava, e que trabalha e divulga, mas este foi o principal motivo, não dar tanta atenção pra uma música que a gente já tinha gravado.

E de certa forma a gravadora pediu pra estas músicas estarem no disco, e como eram músicas nossas, a gente não tinha nenhum problema com elas, a gente achou ok, que era legal gravar, já que era um disco de dez músicas, oito músicas inéditas, e estas duas regravações. Ficou como um bônus, ao vivo, porque são shows realmente importantes, aqui em São Paulo, na Broadway.

O encarte cita Ana Maria Machado, das Mercenárias, na “outra guitarra”. Ela fazia parte da banda de apoio nesta época ou tocou apenas neste show para registro das músicas? Pode falar um pouco sobre a contribuição dela?

A Aninha era guitarrista das Mercenárias, e a gente tinha uma relação muito próxima das Mercenárias, eu toquei bateria na banda por dois anos, e produzi os dois discos delas… e o fato de ser uma menina tocando, acho que já era um lance bacana da banda, simpático e feminista até.

Como vocês conheceram o Jaques Morelenbaum, e como foi feito o arranjo de Flores em Você? Como surgiu a ideia de colocar cordas nesta canção?

O Jaques Morelenbaum foi uma ideia do Liminha, foi uma grande ideia do Lima, que sugeriu, já que a gente pensava nesta música com arranjos de corda, né? Logicamente influenciados por Smithers Jones, uma música do The Jam, e também por Eleanor Rigby, dos Beatles, esta ideia do rock ser tocado orquestrado, a gente achava que se uma banda no Brasil tinha que fazer isso, era o IRA!.

Nos apresentaram, o Liminha apresentou o Jaques pra gente, e eu tive uma reunião com ele, fiz uma gravação com vários fraseados de violão que foram aproveitados no arranjo final, mostrei pra ele estas músicas que a gente tinha como referência, também, e ele fez este arranjo maravilhoso. E numa manhã, acho que no último dia de gravação da gente no Rio de Janeiro, apareceu o Jaques Morelenbaum com os senhores músicos da Orquestra Sinfônica Nacional, e foi espetacular, aquele sol entrando pela janela, e os velhinhos tocando Flores em Você, e ficou aquele resultado maravilhoso.

Qual foi o papel dos craques Pena Schmidt e Vitor Farias? E o do Liminha, mesmo com a “briga”? Como foi trabalhar com eles e qual a importância da contribuição de cada um deles?

Foi muito bom trabalhar com Liminha, Pena Schmidt… Peninha a gente já conhecia ele desde o nosso compacto, desde o nosso primeiro disco, Mudança de Comportamento, é um grande produtor, tem este lado paternalista, que é importante, que é legal, principalmente quando uma banda é de garotos, ele consegue lidar bem o lado… simpático, de ser uma pessoa muito agradável, divertida, e ter um conhecimento musical muito grande, também…

O Liminha era um cara mais da técnica, um cara mais com ideias já meio pré-estabelecidas, alguns conceitos prontos, com alguns a gente se deu bem, com outros não… Vitor Farias é um excelente engenheiro de som, que também já tinha trabalhado com a gente no primeiro disco…

Mas o mais legal foi o Paulo Junqueiro, na verdade, que era um engenheiro de som, um português que tava no Brasil a pouco tempo, e quando nós saímos do Rio de Janeiro pra terminar o disco em São Paulo, ele pegou o trabalho e conseguiu dar uma cara muito legal, a gente se deu bem muito rapidamente, ficamos amigos, e este astral de amizade dura até hoje, e ele ajudou muito a gente a botar o disco nos trilhos novamente, porque no momento em que a gente teve uma pequena briga no estúdio com o Liminha, a gente ficou um pouquinho sem rumo pro trabalho, e a pessoa do Paulo Junqueiro nos ajudou bastante.

Edgard Scandurra, um dos principais guitarristas brasileiros
Scandurra, um dos mais respeitados guitarristas do país

Você sempre fez backing vocals nas músicas, e neste disco eles estão especialmente bons. Você os faz intuitivamente, cantando junto e harmonizando, ou pensa mais teoricamente sobre as notas? Suas principais referências neste quesito seriam Beatles e Who?

Olha, o backing vocal pra mim é uma coisa fundamental, que eu sempre gostei de fazer, desde que eu era criança, que meu irmão pegava o violão, eu grudava nele procurando fazer segunda voz o tempo todo… longe de mim qualquer influência de música sertaneja (risos), mas eu sempre gostei de fazer segunda voz, eu tenho Beatles na minha lembrança, tenho The Who na minha lembrança, tenho vários artistas que eu sempre gostei, muitas bandas, principalmente anos 60, por mais louco que fosse o solo, por mais estranho que fosse o som, as vozes sempre se abriam em duas, três vozes.

Isso é uma referência pra mim e eu sempre gostei, tanto que às vezes quando eu vou cantar uma música como a voz principal, eu sinto uma certa dificuldade, parece que eu me sinto muito mais à vontade pra abrir vozes, fazer corais, côros, segunda voz, do que ser o cantor propriamente dito das músicas.

Edgard, desculpa tocar num assunto que já deve ter te “torrado a paciência”. Longe de querer aumentar a polêmica, apenas tentar esclarecer o significado de uma importante canção deste disco: Em relação à letra dePobre Paulista, há mesmo uma certa “xenofobia” derivada da inconsequência juvenil? Qual o real significado dos versos? 

Bom, a música Pobre Paulista foi uma música feita num momento um pouco… de uma certa irresponsabilidade da minha parte, porque eu queria fazer uma crítica a um pensamento vigente, principalmente numa classe social, numa classe média paulistana da época, onde existia preconceitos mesmo, xenofobia, tudo.

Eu, neste espírito punk, que eu abraçava, eu confundia um pouco anarquia com outros sentimentos, e fiz uma letra provocando, mostrando mais ou menos o sentimento de uma parte das pessoas que não representa de forma alguma o meu sentimento, meu pensamento a respeito, mesmo na época, quando eu era adolescente, quando a gente falta um pouco de tolerância, a gente fica um pouco dono da razão, das coisas, e às vezes parte pra coisas mais extremas.

Mas esta na música na verdade ela denuncia um sentimento que existe até hoje numa parte das pessoas, principalmente classe média, bairros zona sul de São Paulo, Vila Mariana, Paraíso, existe uma coisa um pouco xenófoba, e tudo. Mas isso nunca foi a intenção da gente, do IRA!, muito menos a minha, antes de morar em São Paulo eu morei em Recife por muitos anos, e eu amava aquela cidade, e eu chorava quando as pessoas diziam que eu era paulista, que eu não era de lá, eu dizia que eu era recifense, tenho amigos e sempre tive amigos de todas as classes sociais, e de todas as raças, e de todas as origens, não tenho nenhum problema com nada, nunca tive, e eu lamento realmente que eu tenha feito versos que tenham dado margem pra este tipo de interpretação.

Eu reconheço, inclusive quando eu leio a letra eu falo “é, realmente são versos pesados”, eu sinto muitíssimo, jamais faria uma letra destas novamente, se eu fosse um pouco mais velho talvez eu fosse provocar esta xenofobia brasileira de uma outra maneira, não usando versos tão provocativos. Mas enfim, virou um hino, e é uma denúncia, na verdade acaba sendo uma denúncia a um tipo de comportamento que existe nas pessoas. Mas este nunca foi o meu comportamento, isso eu digo e tenho testemunhas, minha vida toda mostra isso, que nunca passou pela minha cabeça, pelo meu modo de pensar, ter algum tipo de preconceito com outras pessoas.

1986 também marca o lançamento de discos clássicos de outras grandes bandas do rock brasileiro, comoTitãsParalamas e Barão. Você era amigo dos guitarristas destas bandas, rolava uma aproximação? Pode-se dizer que havia mesmo uma “cena”, como hoje a visão a posteriori parece enxergar?

Bom, é verdade, existia uma cena, né? Uma cena de uma garotada, uns mais sortudos, que já tinham instrumentos legais, outros mais duros, que tinham instrumentos piores, mas era uma cena. Que trocava informações, comentávamos sobre discos, mesmo sendo de cidades diferentes.

Por exemplo, aqui de São Paulo, IRA!TitãsUltraje, as bandas mais alternativas, MercenáriasSmackCabine CVoluntários da Pátria, e outras mais várias bandas, no Rio de Janeiro, Paralamas, bandas um pouco mais pop como Kid Abelha, Brasília com as bandas do punk de Brasília, LegiãoPlebe (Rude)Capital, etc; Bahia, Camisa de Vênus, no sul tinha o DeFalla, Minas Gerais tinha bandas também de Belo Horizonte, Sexo Explícito, e a gente trocava algumas figurinhas um pouco à distância, um acompanhando um pouco o outro.

Agora, 86 acho que foi um ano legal porque as bandas já vinham desde 84 deixando seus registros, então em 86, acho que os estúdios se aprimoraram um pouquinho mais, os produtores melhoraram bastante e as bandas também melhoraram. Então, timbres melhoraram bastante, perderam aquela característica amadora que existia no começo do rock dos anos 80, uma coisa um pouco mais “profissa”, com uma sonoridade que até hoje você ouve e é agradável, e é legal e é moderno.

E em termos de influência mútua, vocês estavam atentos à produção das outras bandas? O que cada uma gravava, refletia de algum modo no trabalho dos outros, como acontecia por exemplo entre Beatles e Stones?

Eu acho que existia uma certa observação no trabalho das outras bandas, mas eu, falando muito por mim, era uma pessoa muito fechada nos meus conceitos, eu achava que tinha que ser de um jeito que às vezes estava muito distante do que outras bandas pensavam, e tal. Eu acho que o que dava uma certa liga eram os produtores, e um pouquinho de uma tolerância dos artistas, das bandas, que deixavam muito seu trabalho na mão dos produtores.

Acho que o IRA! neste ponto, a gente bateu muito o pé no começo da nossa carreira, que fez com que a gente fizesse discos muito particulares, como foi o Vivendo E Não Aprendendo, como depois foi o Psicoacústica, ou mesmo mais pra frente, como foi o disco Você Não Sabe Quem Eu Sou, enfim, a gente não dava muita atenção pra tendências de momento e pra observações de produtores, a gente foi muito em cima do que a gente pensava. Isso virou um trabalho muito autoral de nossa parte, mas talvez a gente tivesse aprendido mais se tivéssemos aberto mais nossas cabeças pra trabalhar com outros produtores, talvez tivesse trabalhos incríveis também, mas foi assim que a história fez, foi assim que nós fizemos nosso trabalho.

Qual a sua avaliação sobre o conjunto das faixas, e do legado do disco, 30 anos depois?

Olha, acho que é um dos grandes discos do rock nacional, por uma emoção muito forte contida nas letras, nas músicas, nos arranjos, no espírito de banda, e num momento em que a gente estava muito integrado num conceito, que era o conceito modernista do IRA!, a fase mod do IRA! é uma fase maravilhosa, porque vem um pouquinho depois do post-punk.

Então não era exatamente solos virtuosíssimos, não era um conceito de muita qualidade que a gente tava buscando, a gente buscava muito a sinceridade, que é uma influência dos anos 60, isso. A gente tentava mostrar uma verdade nossa, que vinha desde nosso primeiro disco, Mudança de Comportamento, que tinha a Ninguém Entende um Mod!, que fecha o disco, que a gente fala: “se eu vivo na terra eu vivo nada, eu vivo no espaço, sempre em outro lugar”.

Quer dizer, a gente buscava mesmo ser diferente, do rock, da atitude, da cena das outras bandas, a gente saiu de um programa do Chacrinha, que tinha que fazer um playback, que a gente não concordava, todo mundo foi lá e fez, a gente disse não pra muitas coisas que as bandas diziam sim, então acho que este trabalho é muito em cima disso, são letras muito particulares, de uma forma de pensar muito nossa, de um universo que pra muitos críticos era uma coisa um pouco juvenil demais, às vezes um pouco ingênuo.

Mas era uma ingenuidade que a gente acreditava, daí o nome – Vivendo E Não AprendendoQuinze Anos (Vivendo e Não Aprendendo), ou seja, viver e não aceitar as coisas que querem te ensinar, não descer goela abaixo o que as pessoas querem que você aprenda. É uma teimosia que faz muito parte desta fase da vida da gente. Tenho muito orgulho deste disco.

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