Um dos maiores clássicos do rock brasileiro e provavelmente um dos melhores e mais importantes discos do IRA! completa 30 anos. 1986 foi mesmo um ano intenso para o rock nacional, com o lançamento de álbuns que viriam a se tornar definitivos na discografia das mais importantes bandas brasileiras.
Em meio a uma atmosfera de gravações um tanto quanto tensa, causada pela disputa de egos entre um produtor experiente e uma banda jovem e cheia de energia, emergiu um disco que se tornou um clássico instantâneo, com pelo menos três grandes hits radiofônicos.
No entanto, qualquer uma das outras sete faixas poderiam ter tocado no rádio à exaustão, e se não o fizeram, não foi por não terem a qualidade lírica ou musical das demais, mas simplesmente pelas imposições comerciais das programações das rádios.
IRA! – Vivendo E Não Aprendendo
Este disco colocou definitivamente o IRA! no primeiro escalão do rock nacional, consagrando Scandurra como o melhor guitarrista brasileiro (eleito à época pela revista BIZZ), e não à toa entrou na lista dos 100 maiores discos da música brasileira elaborada pela revista Rolling Stone.
O histórico show de lançamento aconteceu na Praça do Relógio, na USP, e segundo estimativas não oficiais, o público chegou a atingir 40.000 pessoas. Reza a lenda que este show teria sido presenciado por diversas figuras-chave do rock brasileiro, como Renato Russo.
Em 2000, foi lançada uma versão remasterizada em CD. Além de algumas faixas bônus, esta edição conta com uma curiosidade: A remasterização foi feita por ninguém menos que Charles Gavin, ex-baterista dos Titãs e primeiro baterista do IRA! (tendo trocado de lugar com André Jung, que foi o primeiro batera dos Titãs).
Entre as cinco faixas-bônus, destacam-se as versões de estúdio de Gritos na Multidão e Pobre Paulista, as únicas gravações do IRA! com Gavin na batera.
O LP foi relançado em edição de 180 gramas pela Polysom, que integra a coleção Clássicos em Vinil, e pode ser adquirido através do site:
http://www.lojapolysom.com.br/loja/produto-300126-1330-lp_ira_vivendo_e_nao_aprendendo
FICHA TÉCNICA
VIVENDO E NÃO APRENDENDO
Produzido por: Pena Schmidt, Liminha, Vitor Farias, Paulo Junqueiro e IRA!
Direção Artística: Liminha
MARCOS VALADÃO: voz
EDGARD SCANDURRA: guitarra, violão, voz
RICARDO GASPARINI: contra-baixo, vocais
ANDRÉ JUNG: bateria, percussão, vocais
Gravado “Nas Nuvens” (RJ) em maio/junho de 1986
Engenheiro: Vitor Farias
Assistente: Bernardo
Ass. da Produção: Arthur Bello
Cordas em “Flores em você”:
Michel Bessler – violino
Bernardo Bessler – violino
Jaques Morelenbaum – cello
Marcio Malard – cello
Arranjo: IRA! e Jaques Morelenbaum
Mixado no “Transamérica” (SP) em junho/julho
Engenheiro: Paulo Junqueiro
Assistente: Ricardo
Sopro em “Nas ruas”: Mathias Capovilla – trombone
Gravação ao vivo na Broadway (SP) em 3/maio
- Engenheiros: Paulo Junqueiro e Pena Schmidt
- Equipamento de gravação: “Nas Neblinas”: Ricardo Garcia e Arthur Bello
- PA: Roberto Leite Machado
- Monitor: Paulo Farah
- Roadies: Mauro Ruiz e Benê
- Iluminação: Gerson Di Santi
- Som: Gabi
- Promoção: 97FM
- Outra guitarra: Ana Maria Machado
Corte: José Osvaldo Martins – RCA
Desenhos: 1 – Dora Longo Bahia; 2 – Ana Ciça; 3 – Paulo Monteiro; 4 – Camila Trajber
Concepção: IRA!
Fotos: Rui Mendes
Programação Visual: Interferência
Músicas de Edgard Scandurra Pereira, exceto:
“Quinze anos” e “Tanto quanto eu” (Gasparini – Scandurra)
“Vitrine viva” (Luis Arnaldo Braga – Scandurra)
Agradecimentos: Silvio e Celina, Ubirajara e Neninha, Taciana, Mercenárias, Nancy Miranda, Universo em Desfile e sua gang.
FAIXA A FAIXA
Lado 1
Envelheço na Cidade – Uma das faixas que mais tocou nas rádios, e se tornou icônica da banda, calcada num riff simples, criado com variações rítmico-melódicas em cima de um único acorde de D (ré maior).
Casa de Papel – Esta é uma das faixas que poderia facilmente ter sido executada nas rádios, mas acabou permanecendo uma música mais obscura para quem não conhece a fundo a obra da banda. Sua letra reflete um pouco da desesperança citada por Edgard na entrevista abaixo. A cozinha (baixo e bateria) tem grande destaque nesta canção, fornecendo uma base forte e enérgica para a guitarra de Edgard flutuar.
Dias de Luta – Outro dos grandes hits radiofônicos, possui uma bela letra que dialoga com passado e futuro numa reflexão sobre gerações. Os backings delicados de Scandurra fazem o contraponto ideal à profundidade da voz de Nasi. O riff potente e memorável de Edgard é também complementado por alguns overdubs, ou seja, com outras camadas de guitarra, que ajudam a colorir a canção, com frases bem interessantes.
Tanto Quanto Eu – Outra música pra cima, em tonalidade maior, que dá uma cara bem “solar” a esta que é uma das faixas mais rock do disco, com um solo irresistível que deságua em riffs acelerados.
Vitrine Viva – A última faixa do primeiro lado do disco é na verdade a mais “lado B” desta obra, no sentido de ser a com menor apelo radiofônico, pelo caráter mais experimental, realmente uma vitrine viva feita de colagens musicais. Novamente Edgard se encarrega de acrescentar peso com riffs e solo distorcido.
Lado 2
Flores em Você – Clássico absoluto, que remete a lembranças de dias com gosto de infância. As descrição idílica de Edgard sobre a gravação desta faixa acrescenta um caráter ainda mais nostálgico a esta bela canção, que remete a uma tradição do rock de misturar e incorporar elementos de outros estilos, notadamente da música clássica, sendo a inserção de cordas uma bela opção. Ganhou projeção nacional ao se tornar a trilha de abertura da novela O Outro, em horário nobre na emissora de maior audiência do país à época.
Quinze Anos (Vivendo E Não Aprendendo) – A faixa quase homônima do disco, que traz o título do disco entre parênteses (aliás, o uso de parênteses em títulos de músicas é outra tradição do rock e do pop).
Nas Ruas – Desde o título até a parte musical, passando pelos versos, esta música reflete o caráter bem urbano da obra do IRA!, que aparecia com muita força nesta fase mod, reforçando o vínculo da banda com a metrópole paulistana. A letra, como outras do disco, traz críticas sociais refinadas e reflexões filosóficas.
Gritos na Multidão – A primeira das duas faixas ao vivo que encerram o disco, ambas gravadas na Broadway, em São Paulo. Destaque para a integração entre as guitarras de Scandurra e de Ana Maria Machado, guitarrista das Mercenárias que tocou com o IRA! neste show. A energia da banda e do público são quase palpáveis, é possível sentir a vibração dos fãs e dos músicos, impossível não se empolgar.
Pobre Paulista – Sem dúvida um dos maiores e mais polêmicos clássicos do rock brasileiro. Muita coisa já foi dita e desdita sobre seu significado, inclusive por seus integrantes, que durante os anos chegaram a dar declarações conflitantes e contraditórias. Na entrevista abaixo, Edgard é bem assertivo quanto à má interpretação que muitos fizeram da música, e sem dúvida sua história de vida e toda a sua trajetória artística atestam que a música não endossa, antes critica, uma certa xenofobia presente em alguns setores da sociedade paulistana.
ENTREVISTAS EXCLUSIVAS – NASI E EDGARD SCANDURRA
NESM conseguiu entrevistas exclusivas com os dois fundadores do IRA!, que comentam com detalhes saborosos os bastidores de gravação, a época de composição das faixas e o período que a banda e o país viviam.
Leia a entrevista com Nasi.
Leia a entrevista com Scandurra.
Ponha o disco pra tocar e boa leitura!