Apesar de a tradução em português já estar disponível no mercado editorial brasileiro há alguns anos, só agora tive oportunidade de ler Nos Bastidores do Pink Floyd, de Mark Blake, lançado originalmente (em inglês) em 2007.
A data é importante para a estrutura do livro, já que o autor se utiliza da apresentação da banda no Live Aid, em 2005, para tecer seu arco narrativo. No primeiro capítulo, ele descreve um pouco desta apresentação e do visível mal-estar entre seus integrantes. Em seguida, ele faz uma viagem à Cambridge dos anos 40 para contar um pouco sobre a infância dos integrantes, e segue traçando as origens da banda nos anos 60.
Ao final do livro, ele traz novos detalhes sobre esta apresentação, explicitando sua opção de usar esta apresentação memorável como gancho para o entendimento da trajetória da banda. É muito mais fácil compreender o referido mal-estar entre os integrantes depois de percorrer sua história.
A edição brasileira a que tive acesso é da editora Generale (que é o seio de ficção e não ficção da Editora Évora) e foi lançada por aqui em 2012, tendo 454 páginas. O papel lembra um pouco a textura do papel-jornal, sendo assim um pouco áspero.
A tradução é boa de maneira geral, mas nota-se aqui e ali alguns erros recorrentes em biografias de músicos traduzidas por aqui: Provavelmente por falta de um músico na consultoria e/ou na revisão, alguns termos mais técnicos acabam grafados de forma errônea (num dado momento, um acorde diminuto é chamado de diminuta).
É um erro pequeno e que passa despercebido para o público leigo, mas há que se imaginar que ao menos uma parte dos leitores sejam também músicos ou possuam mínima instrução musical. Outro erro recorrente refere-se à tradução da palavra guitar (que pode significar guitarra ou violão). Numa foto de Syd Barret, a legenda indica que aparece “sua guitarra”, quando claramente trata-se de um violão de cordas de nylon.
Enfim, nada que atrapalhe a leitura, mas certamente um cuidado maior pode ser tomado pelas editoras nacionais ao lidarem com biografias de músicos.
O livro em si é muito bom, e antes de prosseguir com seus méritos, gostaria apenas de fazer uma ressalva. O autor, embora seja um jornalista experiente e conheça muito bem a trajetória da banda, parece ter um certo problema com datas e cálculos de tempo. Dois exemplos que me chamaram a atenção durante a leitura me veem à cabeça: Em certo momento ele afirma que o histórico festival de Woodstock (1969) aconteceu em 1968. Em outro, ele afirma que à época das gravações de Dark Side of the Moon, Roger Waters era “um homem casado de 23 anos de idade”. Em 1972, quando a maior parte desta obra-prima foi composta e gravada, Waters já tinha 29.
Mais um detalhe que não atrapalha a fruição da leitura, mas considerando-se que uma biografia lida essencialmente com a passagem do tempo, seria de se esperar um pouco mais de apuro cronológico.
O livro tem 11 capítulos, cujos títulos em sua maior parte fazem alusão a partes de letras do Pink Floyd. Esta edição traz ainda uma Mensagem ao leitor brasileiro, uma Apresentação à edição brasileira e um Prefácio à edição brasileira. Ao final do livro é possível encontrar uma bibliografia selecionada e um encarte de fotos, feito com material de melhor qualidade que as páginas ordinárias.
Embora as fotos tragam uma ou outra curiosidade ou raridade, esta seção poderia ser bem mais caprichada. No entanto, serve ao menos para atestar a decadência física que acompanhou a decadência psicológica do gênio Syd Barret. Aliás, um dos grandes méritos do livro é destacar a importância seminal que o guitarrista teve no início, de uma grandeza que continuou a projetar sombras sobre a banda mesmo após sua saída.
O livro ainda trata com detalhes sobre o conturbado relacionamento entre os membros, notadamente entre seus líderes criativos, Roger Waters e David Gilmour. Quem gosta de Pink Floyd certamente sabe que o primeiro é o gênio lírico e o segundo, o gênio musical. Mas entender um pouco mais da dinâmica criativa da dupla é uma das grandes possibilidades que o livro abre.
Indispensável para fãs de Pink Floyd e importante pra quem quer conhecer um pouco de uma das mais relevantes bandas da história do rock.
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FICHA TÉCNICA
Título: Nos Bastidores do Pink Floyd
Autor: MArk Blake
Editora: generale
Páginas: 454
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