Entrevistas

Ricky Furlani – Guitarra Online!

O guitarrista brasileiro Ricky Furlani

Ricky Furlani é um dos principais nomes do cenário guitarrístico brasileiro há duas décadas. Com um trabalho sólido que inclui discos lançados, cursos presenciais e online, lições e colunas em revistas importantes, Ricky conquistou seu espaço e ganhou destaque num mercado exigente e competitivo.

Com que você idade começou a tocar, Ricky? Teve professores?

Eu comecei a tocar com 11 pra 12 anos, e eu tive professores, sim!

Como foi seu início na guitarra? Que bandas e guitarristas lhe influenciavam nesta época?

Eu me lembro que… Eu sempre conto esta história da minha guitarra, porque eu tenho uns amigos que a gente ainda é amigo até hoje, a gente sempre se vê, sempre faz encontros. E era aquela época do Kiss no Brasil, e Rock’n’Rio, alguns anos depois, então foi uma febre, né. Pelo menos na molecada que andava comigo, e na minha geração, o rock era moda entre a galera mais nova. Então todas aquelas bandas que vieram no Rock’n’Rio, o Queen, Whitesnake, Iron Maiden, Ozzy… Def Leppard não veio, mas a gente acabava conhecendo, porque quem veio no lugar foi o Whitesnake, o baterista tinha sofrido o acidente lá em que perdeu o braço…

Enfim, e a gente ouvia estes caras, e cada um da nossa galera, a gente tinha uma turma grande, de uns 20 amiguinhos assim… A gente morava num condomínio de dois prédios, a gente descia lá no playground, levava um rádio e ficava ouvindo fita! Fita cassete, gravava os vinis, a gente saía uma vez por semana aqui no centro de Campinas pra fazer… Tinha várias lojas de vinil, então tava vindo muito, né, abriu assim o mercado pro rock no Brasil, então tinha muito vinil.

Então a gente tentava sempre, cada um acabava gostando mais de uma banda, e a gente fazia estas trocas. E aí a gente resolveu que ia montar uma banda. E aí eu ia ser guitarrista, o meu outro amigo ia ser guitarrista, e tinha lá a banda toda. Aí o único detalhe é que cada um precisava primeiro… “Vamos lá comprar um instrumento e fazer aula”, e depois a gente ia fazer a nossa banda (risos). Só que eu fui o único que fiz isso.

E aí? Você já tinha sua guitarra?

E aí eu lembro até hoje que eu levei meu pai no centro de Campinas, isso aí, 84… 85, 84… E aí eu me lembro que nos discos do Kiss sempre vinha escrito assim que “Kiss uses Gibson guitars”. Que o Kiss usava guitarras Gibson. E eu me lembro de ir nessa loja no centrão de Campinas. Porque naquela época não existia importação. As guitarras que tinham era Giannini, Tonante, e eu me lembro de ter visto uma parede de Tonantes. Eu não sabia o que era nada, eu só vi o nome Gibson ali, tava escrito “Tonante modelo Gibson”.

Eu falei UAU, esta mesmo! E meu pai olhou assim a guitarra, viu o preço né, ele falou bom, este moleque tá viajando… Porque não era cara, né? Pra ser uma guitarra que a banda dos caras que gosta usa… E comprou esta guitarra. E eu me lembro aí que minha mãe conhecia uma moça que tinha uma filho que tocava violão. E beleza, aí falamos com ele pelo telefone, e ele devia ter uns 17 anos, 18 anos, tava na faculdade ou colegial. Eu nem me lembro do nome, nem me lembro muito da cara dele, mas eu me lembro de ter falado com ele no telefone e ele falar: ah, você quer aprender a tocar, e tal…

Você já tem o instrumento? Eu falei:  Já, tenho… E ele: que instrumento você tem? E aí eu falei: Ah, tenho uma Gibson. E ele O QUÊ, BIXO? Putz, o cara mudou até o jeito de falar comigo, né? (risos). E enfim, cheguei lá com a Tonante, né cara, e ele falou assim: Ué, não trouxe a Gibson? Eu falei, ué. esta aqui. Bixo, ele deu muita risada, cara (risos). E eu fiquei decepcionadíssimo. Mas enfim, foi engraçado, esta história é engraçada. E aí com ele eu comecei a aprender, só que eu não tive muita paciência, porque ele me ensinava musiquinha de criança, assim. Me lembro (canta tediosamente) Escravos de Jó… E nossa, eu queria me matar, falava, não vai dar certo isso aqui. Não rolou.

E aí depois disso aí beleza, eu lembro que eu comecei a aprender sozinho, sem material nenhum, sem saber nem afinar o instrumento. Até que um dos futuros membros do que era pra ser a nossa banda chegou em casa, eu tava “fan, fon”… Liguei a guitarra no aparelho de som,  e naquela época aparelho de som tinha nível de gravação, então você punha no 10, ele dava aquela distorcida mesmo, distorcida de aparelho de som. Ele chegou lá, mas tava uma zueira aquela guitarra…

Até que finalmente, chegou um novo vizinho meu, da porta da frente. Devia ter uns 20 anos, tocava guitarra e violão, tinha uma Giannini, e tal…  Só que a mãe dele não deixava ele cobrar! Então, bixo… eu ia na casa dele, ele não tava… Ele queria cobrar, né, mas a mãe dele não deixava, então ele não dava a aula direito. Mas aprendi a tocar umas coisas a mais com ele, sim. Então, me ensinou a tocar um pedaço do Rock’n’Roll All Nite, do Kiss, que eu queria tocar…

Me lembro nesta época, eu acho que eu tava na sexta série, que tinha uma apresentação na escola, e a gente estudava num colégio católico, e era dia de Maria, não me lembro mais. E aí um amigo meu falou assim: Ó bixo, porque que a gente não toca Maria, Maria, do Milton Nascimento? E aí você toca e eu canto. Eu falei: Ah, tá bom, vou pedir pro meu professor me ensinar! Só que este meu professor também não era lá estas coisas, o cara tocava male male, assim, o que a mãe não deixava ele cobrar.

Então ele me ensinou a música. Mas eu não me lembro agora exatamente, se foi culpa dele ou minha, eu acho que foi mais minha do que dele, que eu não entendi nada da música. Porque a música não é fácil pra um iniciante tocar, né? E aí eu me lembro, a história engraçada foi que a gente tocou, eu fiz qualquer coisa, qualquer acorde, eu sabia dois acordes no máximo, por causa do Escravos de Jó, que eu tinha aprendido… e a gente tocou, foi um sucesso…

Eu lembro que a menina mais popular da nossa classe nunca tinha nem olhado na minha cara, depois deste dia ela chegou pra mim e falou: Uau, puxa, que bonito, vocês tocaram… E eu super querendo ser humilde, sei lá, disse, imagina, sei lá o quê que eu toquei, toquei qualquer coisa. E ela: ô louco, como assim? Eu falei: Eu não sei tocar esta música, eu até tentei aprender, a gente tocou lá, cantou em cima, ele levou um microfone, deve ter sido péssimo, mas a molecada… E depois que eu falei isso pra ela, ela olhou assim pra mim meio decepcionada, e continuou nunca mais olhando na minha cara (risos)!

Depois, neste mesmo ano, eu conheci um outro cara que tocava guitarra, na mesma escola. E ele disse, cara, tô fazendo aula com um cara muito bom aqui, chama Hélio Valverde. Que foi o cara que eu fiz aula muitos anos, foi o cara que realmente me ensinou a tocar. E aí eu fiz aula com ele durante muito tempo, e aí a coisa foi. Fiz aula com ele dos 14 até praticamente eu pegar quartel. Depois eu peguei quartel, quando saí  fiz aula com um outro cara, que chamava Newton Regina. E aí foi realmente quando eu me decidi  que queria realmente estudar música a sério.

Não foi nem que, como a gente costuma dizer, decidi ser músico profissional. A gente não decide isso, as coisas vão se decidindo por nós. Mas que eu decidi que eu queria realmente aprender música a sério, eu decidi. Porque quando eu estudei com o Hélio, eu aprendi algumas coisas sim, mas eu queria muito mais aprender a tocar as músicas. Porque eu toquei em bandas cover durante minha adolescência inteira, eu sempre era o mais novo das bandas, porque eu tinha agilidade pra tocar as músicas. Eu tinha um professor bom que me passava as músicas, eu não sabia tirar de ouvido.

E foi o que me ajudou a com tempo ir tirando de ouvido, mas eu não aprendia as escalas, não aprendia os acordes… Eu sabia um pouco das notas no braço, mas… Então eu passei minha adolescência, até os meus 18 anos, tocando em bandas cover. E aí depois que eu fiz exército, enquanto eu fiz exército eu toquei numa banda de baile, que a gente fazia exército durante a semana, e era exército mesmo, não era tiro de guerra, ficava às vezes a semana inteira no quartel, então saía de fim de semana ia fazer com a banda de baile.

Depois que eu saí do quartel, pensei, agora preciso dar um jeito na minha vida. Foi quando eu comecei a estudar música com o Newton Regina, que aí que eu fui aprender mesmo as coisas, tintim por tintim, notas no braço, como deveria, intervalos, formação de acordes, campo harmônico. Foi aí que a coisa… Nossa, como eu saí do quartel e eu não trabalhava, e estudava à noite, eu tocava e estudava música o dia inteiro. Eu fiquei três anos com o Newton, dos 19 aos 22. Foi quando deu a oportunidade de eu ir pros EUA, estudar música lá. A história das aulas é esta.

O guitarrista Ricky Furlani empunha sua Gibson Les Paul
Ricky Furlani com sua Gibson Les Paul

Quais foram as bandas que mais te inspiravam nesta época? Fale um pouco sobre sua trajetória profissional.

Acho que eu falei um pouco, né? Que eu toquei muito em bandas cover, na minha adolescência… Então, naquela época, a gente saía de carro com 15 anos, pelo menos aqui em Campinas, nas cidades do interior. Saía sem carta, sem cinto, eu tive moto com 15 anos, sem capacete e sem espelhinho. Naquela época era terra de ninguém, né? Hoje a coisa mudou bastante.  Então a gente tocava nas casas noturnas e tomava todas com 15 anos! Imagina…

Mas pra mim foi bom, porque eu peguei muito… Eu tocava com os caras que precisava viajar de carro, e eu tocava com os caras mais velhos que eu, então como eu dava conta do recado de tocar o repertório. O repertório era sempre o rock nacional, que a gente gostava, que era o rock nacional do momento, que era Titãs e Barão. Basicamente o que eu mais ouvi de rock nacional foi Titãs e Barão…

O Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas foi o disco dos Titãs que eu mais ouvi, furei aquele disco de ouvir… E claro, o Cabeça Dinossauro… Barão Vermelho também gostava muito… E Ultraje a Rigor também a gente gostava muito, eram talvez as três bandas nacionais que a gente mais curtiu.

E eu gostava muito do Barão, e também gostava dos Titãs. Apesar de achar que no Barão tinha mais “lead guitar”, mais legal, era mais bluesy as coisas, eram mais afinados, eram mais bonitos os solos. E nos Titãs nem tinha tanto solo, às vezes eram mais as músicas mesmo que eram legais.

Bom, Kiss realmente foi a primeira banda que eu me apaixonei, eu tocava antes de ter guitarra, foi a banda que me inspirou mesmo, em 83. Eu tinha um cabide que parecia uma guitarra e eu ficava com o cabide o dia inteiro (risos). Mas os guitarristas realmente dos anos 80 foram estes caras destas bandas que a gente ouvia. Então eu ouvia WASP, Motley Crue, Twisted Sisters, Scorpions…

Still Loving You, bixo, a primeira vez que eu ouvi, no rádio, eu me lembro, foi no ônibus, cara… no rádio do ônibus, voltando pra casa do clube, uma vez, com os amigos, e “pan-pan-paran”, aquele solo… E a a gente fazia bailinhos, né? Este pessoal do prédio que era pra gente ter esta banda que nunca aconteceu, a gente fazia os bailinhos, pra fazer as danças com as meninas, e eram só as músicas lentas destas bandas.

Ricky volta à questão da trajetória profissional:

Bom, depois que eu fui pro GIT, lá pros EUA, que foi esta coisa de eu ter passado minha adolescência tocando em banda cover, saí do quartel tive esta fase de três anos tocando com um cara muito bom, que eu falei, que é o Newton Regina, fui pros EUA… Antes de ir pros EUA, eu tinha composto uma música, que chamava Memories. Esta música, quando a gravei num estúdio aqui em Campinas que era bem conhecido, que era do Caio, que depois foi muitos anos técnico do IRA!, depois ele foi técnico do pessoal do Charlie Brown…

Enfim, eu fui pros EUA estudar e ele mostrou a música uma vez pra um produtor que era amigo dele, que tava fazendo a abertura de uma trilha pra um programa de TV da Bandeirantes, que passava na madrugada, e aí o cara falou pro Caio: Bixo, fala pro cara que eu quero usar a música! E aí eles usaram minhas música nesta trilha.

O programa passava no interior, então muita gente aqui, que depois que vai associar que aquela música era minha, CARA, escutava aquela música, e tentava tirar… tentava gravar na televisão em VHS, enfim, pra mim foi muito legal, foi a primeira conquista que eu tive, e eu tava lá nos EUA, já estudando. Foi muito legal lá o curso nos EUA, mas imagina, naquela época, não tinha internet… Quem é velho tem sempre este papo: naquela época não tinha internet (risos).

Então imagina, eu campineiro, caipirão, fui pra Los Angeles, e dei de cara com tudo aquilo. O máximo que a gente via era em revista, alguma coisa assim, mas… Aquilo foi um choque pra mim, UAU… Então o conhecimento e a experiência de conhecer coisas assim, você passa por cima de anos às vezes de blá-blá-blá de equipamentos… De blá-blá-blá sobre conceitos de técnica, de quem é melhor que quem, umas coisas que você… Pff!

Então foi realmente muito bom naquela época ter feito, porque eu vi um mundo que eu não ia ver tão cedo.  A internet começou… quando eu voltei dos EUA, foi em 96… Em 97 a internet no Brasil tava começando, aquele modem de 13… que você discava, e tal… E a velocidade top era o modem da US Robotics, que era de 56k a velocidade… Uau!

Então pra mim ter estudado nos EUA foi onde eu pus em prática tudo que eu tinha aprendido com o Newton, e muito mais. Eu tinha estudado percepção rítmica com o Newton, mas eu não tinha estudado percepção melódica e harmônica. E na escola a gente tinha, e era muito bom. E tocar com outros músicos, conhecer gente do mundo inteiro, eu caipira de Campinas, que não fazia a mínima ideia das coisas… Conheci MUITA gente legal, então o Grecco Buratto era meu room mate. O Grecco mor ala até hoje, um super músico, profissa, o Rafael Moreira era da nossa turma, a gente era super amigo, jogava bola, tocava juntos, turma de brasileiros deste ano.

Ricky Furlani com sua Gibson Les Paul

Então foi muito legal esta experiência e foi o que realmente me deus sua experiência de poder voltar, e continuar o aprendizado, porque a gente não pode parar de aprender nunca, e eu sempre curti compor. E como eu já tinha composto esta música, que virou trilha do programa, nos EUA eu tinha feito mais umas 4, 5 músicas, eu gravava tudo num DR5, que era aquela bateria eletrônica da BOSS. Eu tinha uma mesinha de 4 canais da Tascam, e eu gravava minhas demos ali, ia gravando, até que por sorte eu consegui… por sorte e insistência, eu conheci várias pessoas que me apoiaram a começar a gravar o primeiro CD. E eu consegui um contrato com uma gravadora, na época era distribuição da Eldorado e a gravadora era a BMGV, que era da Lucia Veríssimo.

Gravei meu primeiro disco, que chama Inscriptions, que realmente pra época é um disco bom. Se você ouvir, foi lançado em 98, no Brasil, guitarra rock, com composição, recebeu várias críticas, levou meu nome pra um lugar, principalmente por ter sido lançado por uma gravadora, numa época onde isso ainda era relevante, participei de feira de CD… Foi muito legal, conheci muita gente legal, me abriu várias portas, até que neste meio-tempo eu acabei conhecendo o Heraldo Paarmann, que era o guitarrista que tocava no Ultraje. Então pra mim, eu era fã do cara, e o cara super simples, e ele me chamou pra fazer transcrição pra Cover Guitarra, na época.

Eu tocava com um cara, quando voltei dos EUA, que era um amigo nosso de lá, estudou com a gente lá, e ele tinha conseguido um contrato pra lançar um trabalho dele, não instrumental, mas era um trabalho pop-rock, meio Barão, pela Universal. Então a gente gravou vídeo-clip, e eu ia muito pra São Paulo, pra ensaiar com ele, e eu me lembro que foi no estúdio da escola Croma Zone, que fica na Cardeal Arco-Verde.

E o cara que ficava na técnica de som, eu levei uma fita um dia pro cara, pô, escuta minhas músicas, aquela coisa, fita-demo, e ele gostou, mostrou pros donos da escola, os caras curtiram. Pô bixo, queria que você tocasse aqui no encerramento da escola, pros alunos. Pô, demorou. E no mesmo dia tava tocando o Quadrivium, que na época era o primeiro quarteto de guitarras, e tinha o Heraldo Paarmann, o Ciro Visconti e mais dois caras que não me lembro exatamente quem eram. E a gente tocou no mesmo dia. Então eles tocaram antes, e depois eu toquei, e eu tenho uma peça, meio erudita, e que tava nos meus planos de tocar, e que era uma peça que eu escrevi pra três vozes.

E eu toquei junto com o DR5, dando as outras vozes. E neste dia o Heraldo me chamou pra fazer transcrição pra Cover Guitarra, pô, me manda seu material… super profissa, material, com release, pra eu ver… Foi uma época mágica assim pra mim, que as portas foram se abrindo, o trabalho sendo reconhecido, foi muito legal, e é aquela coisa, você tem que aproveitar a oportunidade. Então eu comecei a fazer transcrição pra Cover Guitarra, conheci o Regis Tadeu, que sempre foi um cara fantástico, ele fazia aquela editora acontecer, o cara era foda, mesmo.

Fale mal ou fale bem do Régis, ninguém vai fazer o que ele já fez pela música no Brasil. Régis Tadeu, marque este nome, todo mundo conhece ele hoje talvez de uma maneira diferente, porque ele é polêmico, que ele sempre foi assim, na verdade. É que agora ele tem o lance de ser jurado no Raul Gil, e tem aquele jeito de tacar pau em tudo, mas ele é uma enciclopédia musical ambulante.

Aí o Régis me mostrou o Encore, que eles trabalhavam, aprendi a mexer com o Encore, foi uma coisa… Se eu não soubesse notas na partitura, eu ia transcrever transcrição de quê? E isso abriu as portas, eu conheci o Sidney Carvalho… Naquela época… isso aí é 97, cara. Um pouco antes de sair meu CD, que foi gravado em 97, mas só saiu um 99, a gravadora demorou pra lançar, aquela coisa. Antes disso tinha saído, pelo Márcio Okayama…

Você vai lembrando, tem uma história antes, ainda, de uma coluna que eu escrevi na Guitar Player, que eu peguei a coluna e escrevi à mão. Eu não tinha ainda software nenhum, não tinha nem computador, eu escrevi uma ideia melódica que eu tinha, eu tenho esta edição até hoje, a harmonização, não me lembro mais o tema, com duas partes de guitarra, e que a ideia básica era a seguinte: Que uma linha melódica era bem curta, com notas próximas, e a outra linha eram notas que tinham saltos grandes.

E aí eu dei dois exemplos, escrevi uns textos sobre a coluna, escrevi meu release, tudo à mão, pus no envelope, e mandei pra Guitar Player aos cuidados do Mozart Melo. Na época a Guitar Player estava, sei lá, na terceira edição, e daqui um tempo toca o telefone em casa, eu até brinquei, meu vizinho tava em casa… porque toda vez que tocava o telefone, eu falava: é o cara da Guitar Player. Este dia eu brinquei com ele, falei, é o cara da Guitar Player! Peguei o telefone, alô, oi Ricky, aqui é o Mozart Melo, sou editor da Guitar Player… eu falei: é o cara! A gente recebeu sua coluna aqui, a gente gostou, a gente quer publicar, pode? Eu, puta bixo, pode, pelo amor de Deus (risos). Aí eu falei, vou te mandar outra.

E eu me lembro que foi um incentivo muito grande, porque ele até falou, pô, são colunas assim que a gente tá procurando, assuntos diferentes… Então tudo eu via como uma inspiração pra continuar fazendo aquilo. Depois disso que veio a história de eu começar a gravar meu CD, isso foi logo que eu voltei dos EUA, 96, a capa do Djavan. Aí que eu conheci o Heraldo, que é a história que eu tava te falando.

Depois posteriormente eu mandei outra coluna, sobre turnarounds de blues, que é uma coisa mais básica, mais padrão, e eles publicaram mesmo assim, gostaram. Aí depois eu comecei a escrever pra Cover Guitarra, escrevi anos as colunas, depois de fazer transcrição, nossa, o que eu fiz de transcrição, varava a noite…

Foi onde eu aprendi a fazer tudo que eu precisava fazer no Encore, que é o software de partitura que eu uso até hoje, eu sei que tem softwares melhores, mas eu sei fazer tudo nele, não adianta eu querer mudar agora. Tenho a versão oficial pra Mac, é uma maravilha. Ele não é chique não, é um programa de partituras simples, mas faz o trabalho legal. Aí que foi a história de eu gravar meu disco, e de ter conseguido a gravadora, e aí tem uma história longa aí, ainda tem uns 15 anos pra eu contar de história. Mas até aqui já é um bom começo, são todas histórias que são importantes pra mim.

Como surgiu a ideia de fazer um curso de guitarra online?

Bom, já fazia um tempo que eu queria fazer, eu tava vendo que já era um possível futuro, ter esta possibilidade do cara comprar o seu curso e ter o seu respaldo como professor, mas diferente de skype. É como se você estivesse numa aula presencial. Eu imaginava que eu poderia fazer vídeos com qualidade, porque o skype é aquela qualidade de transmissão, e eu queria fazer um curso que tivesse um conteúdo bacana de vídeo e de áudio, e que tivesse as partituras, as tablaturas, os backing tracks.

E há tempos que eu vinha pensando uma maneira que fosse viável fazer, porque eu já tinha gravado algumas vídeo-aulas, e sempre era numa produtora de vídeo, onde tinha um custo… Então eu queria um lugar, eu tenho um estúdio em casa, mas até eu ter um estúdio em casa, levou tempo, até eu ter uma casa um dia, que eu pudesse reformar uma parte e fazer um estúdio pra mim, então eu precisava de equipamento de vídeo, precisava aprender a mexer, editar, e tal, não dava pra terceirizar tudo isso, senão não ia rolar fazer, precisava ser um preço interessante, então eu fiquei um tempo matutando isso.

Até que eu me virei e comecei a comprar os equipamentos aqui, iluminação, câmera… Hoje eu trabalho com o software de edição da Apple que é o Final Cut, então a ideia veio mesmo desta necessidade de sair do presencial e ir pro online, todo mundo hoje tá na frente do computador, a gente percebe que mudou muito o mercado de aulas, e musical em geral, e por causa da internet. Então se a gente não aproveitar isso a nosso favor, mercadologicamente a gente fica na idade da pedra.

Eu vejo que tá cada vez mais difícil das pessoas saírem de casa. Porque o cara tem o computador com o mundo na frente dele, e não vamos entrar no mérito se isso é bom ou ruim, que a internet acabou com o planeta, o Facebook acabou com as relações humanas… (risos).  Sem esta conversa. Só pra não simplificar. Então, basicamente, o processo de desenvolvimento deste produto, desde sua concepção até o lançamento, foi mais ou menos assim, mas eu fui fazendo testes, fui pensando o que eu vou fazer primeiro…

Que foi o Blues Rock Express, o primeiro curso que eu fiz, que foram duas aulas menores por semana, eu fui pensando no conteúdo pra fazer uma coisa não tão tradicional. Blues-Rock eu pensei porque dá pra ensinar um monte de coisas através desta linguagem, sem cair naquela coisa tradicional. E como eu já tava manjando de edições, eu conseguia eu mesmo fazer as edições, faço as edições de vídeo até hoje, adoro fazer edição de vídeo. Então o Blues Rock Expressnasceu assim, e aí o Rocky Furlani Guitarra Online nasceu.

Eu lembro que quando nasceu eu te mostrei, e agora já está bem maior, gravei outros cursos, tem um agora que chama o Rocky Furlani Advanced, que já vai ter um conteúdo mais difícil mesmo que o Blues Rock Express, que apesar de não ser um curso básico, é um curso intermediário. Mas o Advanced vai ser uma coisa pra galera mais avançada, que já tem um conhecimento, que gosta do meu jeito de tocar e quer ver como eu abordo o assunto. Então acho que o grande barato é este, a pessoa que vai comprar um curso online ela quer comprar de um cara que ela gosta, de um artista ou músico que ela gosta de ver tocar.

Palhetas personalizadas Ricky Furlani Guitarra Online

Os alunos recebem algum tipo de feedback sobre eventuais dúvidas?

Tem cara, e é por WhatsApp, a gente tem no site o suporte, como você viu, o cara escreve texto, só que quando a gente lançou, a gente não pensou nisso, no WhatsApp pra responder perguntas, mas eu comecei a perceber que às vezes a repostasse eu pegasse o celular e mandasse um áudio pro cara seria muito melhor, então eu comecei a fazer isso. Se o cara me mandasse uma pergunta legal, eu pegava o telefone dele que tá lá no nosso cadastro, e mandava mensagem pra ele. E a galera começou a curtir muito, a comunicação fica muito melhor.

Apesar de dar um pouco de trabalho, mas ao mesmo tempo, eu não tenho trabalho com as aulas que já estão prontas, então dar este tipo de suporte pro cara, com o contato direto do meu WhatsApp, é legal. O cara grava um vídeo e me manda pra eu ver como ele está tocando. Assim eu acho que um curso online faz mais sentido, o respaldo pro aluno, o suporte pro aluno, como se fosse uma escola. A diferença é que ele realmente está à distância, mas você dá este feedback pro cara de uma maneira um pouco mais intimista, um pouco mais próxima.

Qual a importância pro músico atual ver sua arte como negócio?

Arte e negócio às vezes é polêmico, são extremos (risos). Mas a gente que vive de música, a gente tem que tentar pelo menos achar um meio-termo onde a gente consiga fazer coisas que a gente acredita e tentar fazer que isso seja uma coisa que renda alguma grana., Então por exemplo, eu não consigo tocar, já fiz isso, um estilo de som que eu não acredito, porque aquilo vai me pagar bem, eu toquei com dupla sertaneja, e tudo, mas aquilo me faz mal.  Eu vejo muito músico que diz, ah, eu gosto é de tocar, isso não importa, e também vida de músico não é fácil, eu entendo, lógico.

Mas eu não estou dizendo que tem que ser assim ou não, eu sou assim, tem muita gente assim, então eu preciso acreditar, eu escolhi ser músico por realmente poder fazer uma coisa totalmente que eu quisesse fazer. Agora eu vou começar a tocar coisas que eu não gosto, que eu volto pra casa triste? Então eu vou trabalhar num banco, fazer um concurso público, porque aí eu vou ganhar mais, e estar fazendo uma coisa chata de qualquer jeito.

Então tem que ser criativo pra tentar fazer o que você gosta, tentar viabilizar coisas que você gosta, neste novo mundo musical nosso. Eu tenho feito curso online, tem dado super certo, tem sido um sucesso, a gente tá muito feliz. A ideia é produzir outros professores agora, quero produzir outros caras que são excelentes músicos professores, mas que não tem como fazer seu curso, a gente planeja também poder produzir o curso pro cara.

E claro, só vou fazer isso com caras que a gente acredita, mas realmente… por exemplo, eu tenho três discos instrumentais e um disco autoral também,  com voz, que com a banda Superoverdrive. Se eu for pensar nestes trabalhos, se meu deu dinheiro ou não, financeiramente, se eu vendi milhares de CD’s… Bixo, ninguém vende milhares de CD’s, imagina hoje em dia, então… mas se eu não tivesse feito esta história toda, talvez eu não ia ter este espaço grande que eu tenho no mercado, pra conseguir desenvolver um curso online que realmente as pessoas vão se interessar em comprar.

Porque tem uma história atrás. Então tem que fazer sua arte, tem que fazer o que você acredita, independente de bater com o que eu tô falando ou não, mas você tem que acreditar no que você tá fazendo. Eu lembro que uma das frases mais marcantes que algum professor pode ter me falado, foi o Carl Shroeder, professor de composição, pianista, lá nos EUA, que ele falava assim, em termos de composição:

Se você não acredita no que você tá fazendo, se você não acredita na sua música, ninguém vai acreditar. Então se você tá tocando e pensando putz, será que isso vai pra frente? Se você tá numa banda e tá com vergonha porque o vocalista não tá cantando direito, bixo, não vai mesmo pra frente, você tem que mudar a atitude, troca a atitude, então você tem que ser o seu primeiro fã.

O lance de você ter o pé no chão é diferente de você ser seu fã número um, você precisa acreditar muito em você e fazer as coisas funcionarem. Fazer isso funcionar, só vai funcionar assim, eu não conheço ninguém que tenha um trabalho respeitado, que as pessoas gostem daquela música, se a pessoa não acredita, independente da gente gostar da música ou não.

Mas a pessoa que tá lançando a música, você que tá fazendo aquilo, independente se é uma composição, uma banda, um projeto musical, ou qualquer coisa na vida, se você não acredita naquele projeto, até inocentemente, aquilo lá… se você já tá com o pé atrás… Ou muda a atitude, e põe dos dois pés na frente, os dois pés na porta, ou não, ou não faz, vai pensar, refletir, dar uma volta no quarteirão. Acho que é isso aí. Queria agradecer pelas perguntas, acho que falei pra caraca (risos). É isso, grande abraço.

Mais informações sobre o curso Ricky Furlani Guitarra Online em seu site oficial.

GOSTOU DESTE CONTEÚDO? ASSINE NOSSA NEWSLETTER E FIQUE POR DENTRO DAS NOVIDADES!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *